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Cazuza, meu rei

CAZUZA, MEU REI

Com todo o respeito, acho que Cazuza fez “Exagerado” pra mim. Tá certo, pra mim e pra muita gente mais. Mas não há nada em que eu seja tão exagerado quanto no ato de dar aula. Já chego animado e vou me animando mais e mais. Claro que vou falando cada vez mais alto, à medida em que aumenta o entusiasmo. Não é só em aula não. Conversando com meus filhos, com meus amigos, com a namorada. Todo mundo sempre me avisou, pedindo com gentileza bem quando eu estou no auge da história:

– Dá pra falar um pouquinho mais baixo?

Tive certeza absoluta dessa questão quando recebi uma aluna alemã. Ela sumiu do curso depois de duas semanas e eu achei estranho. Resolvi perguntar a um aluno mais chegado e ele me explicou a dura realidade:

– Alvito, ela sempre reclamava por você falar alto demais. Na verdade, vivia perguntando: por que o professor grita tanto?

Claro que aqui entra também o fator cultural. Fico imaginando meus colegas germânicos sussurrando as histórias que têm a contar. Depois disso eu até que tentei diminuir o volume, mas descobri que não conseguia.

Um dia, conversando com um amigo e colega querido, também professor naquela universidade de Niterói, ele não resistiu, gaiato que só:

– Alvito, outro dia fiquei ouvindo sua aula…

– Você estava no corredor?

– Não, eu estava no estacionamento…

Cazuza, meu rei, só você me entende.