COISAS QUE O TEMPO FAZ
Kronos, o tempo, aquele que tudo devora. Tanto reclamamos do tempo, mas quando encontro uma velha amiga de faculdade, a ele agradeço. Pois percebo que o tempo também constrói, é um “compositor de destinos” como diz Caetano Veloso.
Quando éramos colegas e tínhamos uns vinte anos de idade, ela era uma mocinha mignon, graciosa e bela, cheia de personalidade, muito crítica e engraçada. Nossa amizade era sólida e bacana, trocávamos confidências sobre a vida amorosa dela e sobre a minha, que à época era mais composta de sonhos do que de realidade. Ela tentava consertar essa situação e uma vez até armou uma viagem à três com outra amiga, para na hora h dizer que não iria. Só que a amiga estava apaixonada por um ex-namorado e eu virei novamente uma boa orelha para o amor dos outros.
Só uma coisa tirava essa minha amiga do sério: o seu cabelo. Era bonito, não há a menor dúvida, quer dizer, eu e a torcida do Flamengo não tínhamos a menor dúvida, mas ela… Vivia dizendo que iria cortar o cabelo, o que era para mim uma ameaça terrível. Pois eu sabia que no dia seguinte ela chegaria na Faculdade dizendo que queria se matar, que o cabeleireiro havia acabado com a vida dela, que tinha vergonha de sair de casa… Claro que o cabelo continuava lindo, só alguns centímetros mais curto. E lá ia eu confortá-la por ao menos uma semana.
Recentemente, voltei a vê-la. Continua mignon, a personalidade se mantém forte e crítica, o humor está ainda melhor. Casada, com um casal de filhos já formados, realizada na profissão, ela é uma mulher feliz.
O cabelo?
Agora ostenta os lindos cabelos brancos que o tempo lhe deu.