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Histórias do Alvito – A GREVE DO GUARDA-CHUVA

Histórias do Alvito
A GREVE DO GUARDA-CHUVA
Dias ensopados me fazem lembrar a memorável greve do guarda-chuva. Talvez tenha sido meu primeiro embate mais sério com a autoridade, no caso, mamãe.
Nos anos que se seguiram houve também a greve do pijama, quando avisei que não mais usaria essa horrível vestimenta cheia de botões e que mais parecia para mim uma camisa-de-força, o que é força de expressão porque à época nunca tinha ouvido falar em uma. Como já contei, quando mamãe ameaçou entrar no quarto para uma blitz (claro que ela não usou o termo) e me obrigar a recolocar o instrumento do meu martírio infantil (hoje estou dramático, só hoje?), foi repelida na sua vil intenção por uma argumentação lógica:
— Sim, eu coloco de novo, a senhora sai, eu tiro de novo, a senhora vai ter que ficar a noite inteira fazendo isso.
Depois teve a greve de fome de um jantar quando servi ao Exército, mas ela já é prato frio e requentado para vocês leitores.
Quando aluno da universidade, fiquei em greve de fala diante de uma professora que humilhava quem ousava dela discordar.
E é claro que participei, de umas mais, de outras menos, de todas as greves da universidade, fiz até o Pagode do Reitor…
Mas hoje eu queria mesmo relembrar a greve do guarda-chuva. Ou melhor, no plural, dos guarda-chuvas. Depois de perder dois em uma semana, comuniquei à minha mãe que não iria mais usá-los:
— Mas assim você vai se molhar, meu filho.
— Prefiro chegar todo molhado em casa do que tomar bronca duas vezes por semana.
Se eu fiz as pazes com os guarda-chuvas? Sim e não, nunca seremos amigos, há sempre uma desconfiança mútua. Hoje fui resolver uns problemas no centro com Kay Alvito, e na volta, quando ela ia para a sua aula de bateria, disse que ela ficasse com o guarda-chuva para voltar para casa.
Horas mais tarde minha filha me liga comunicando que em menos de duas horas tinha perdido o guarda-chuva. Eu tive vontade de rir.
Deve ser genético. Ou então é uma conspiração mundial dos guarda-chuvas contra os Alvito. Afinal, os bichinhos também têm direito a fazer greve…