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HISTÓRIAS DO ALVITO – A sereia da praia vermelha

A sereia da Praia Vermelha

A Praia Vermelha foi o palco de um episódio bastante sangrento: uma tentativa de levante comunista em 1935, foi reprimido a ferro e fogo por Getúlio. Até hoje os militares celebram discretamente essa vitória contra o perigo vermelho. Mas é também uma praia linda, do tamanho certo para uma história de amor e é uma dessas que eu vou contar agora.

Fernanda largou tudo do outro lado do Atlântico, seu pai, sua família, sua Lisboa querida. Desiludida e desencantada com um falso amor, embarcou no navio mais próximo e cruzou o oceano. Chegou no mesmo barco que Carlos Lacerda, que voltava depois de ter sido praticamente escorraçado pelas multidões que choravam a morte de Getúlio. Lacerda foi recepcionado pela turma do Clube da Lanterna e Fernanda achou estranho aquele bando de homens segurando uma vela na mão. Mas em seguida viu da janela do táxi o Passeio Público e ficou fascinada com as árvores e a vegetação.

Fernanda veio trabalhar com a mãe, que já estava no Rio e tinha uma oficina de cortinas. Um dia, Fernanda e uma amiga costureira decidem ir a um baile da Associação Comercial, uma linda e grandiosa pista de dança que existe até hoje na Avenida Rio Branco.

Agora corta para Dario. Órfão de pai aos dez anos, Dario era baiano, mas fora criado no Rio a partir dos oito anos. A adolescência foi difícil, trabalhando de fiscal de vendas de dia e estudando à noite. Mas o baiano também se divertia: adorava batucar, assistir aos jogos do Flamengo na Gávea e de vez em quando pegava um jipe emprestado para sair com uma namorada. Conseguiu passar no difícil vestibular para Veterinária na Rural, onde trabalhava na Biblioteca. Vida dura, mas naquele dia ele estava no Rio e foi ao baile da Associação Comercial.

O moreno bonito partiu resoluto na direção da mesa onde estava Fernanda. Antes que ele chegasse, outro rapaz convida a amiga costureira para dançar. O moreno continuou vindo. Só que Fernanda teve a impressão de que ele estava querendo convidar a amiga e não ela. Ele juraria até o fim da vida que não, que só tinha olhos para ela.

Seja lá como for, o baiano gostou da mocinha portuguesa e vice-versa. Logo ele marcou umas aulas de natação para ela. Adivinhem aonde? Claro, na Praia Vermelha. Muitos anos depois ela se lembrava dessas aulas com um riso contido, confessando que nunca aprendeu a nadar, mas que o professor bem que a segurou de todas as formas possíveis. A sereia da Praia Vermelha gostou tanto do baiano que eles acabaram se casando.

Tiveram três filhos: Denise, Marcos e Maria Fernanda. Quando o coraçãozinho de Dario parou de bater, já abalado por um infarto, a decisão foi unânime. Lançamos suas cinzas nas ondas da Praia Vermelha. Porque ali, tínhamos certeza, ele havia sido feliz.