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HISTÓRIAS DO ALVITO – A vingança do coroa

O coroa sou eu e a vingança foi deliciosa. Entrar lá já foi difícil. Coloquei objetos de metal, no meu caso dois molhos de chaves, em um armário antes da porta giratória. Tranquei e peguei a chave de número três. Em seguida, enfrentei a porta. Havia que apertar um botão e ao mesmo tempo empurrar a primeira porta de vidro. Depois pressionar outro botão e desta vez puxar a porta de vidro. Pronto, depois destas três operações eu estava lá dentro.

Parti com confiança para a próxima missão. Desbloquear o celular para poder receber um código, que por sua vez permitiria desbloquear o computador, o que me permitiria pagar as minhas contas com o meu dinheiro. Achar a operação desejada não foi tão difícil, havia só 57 opções mas eu trouxe cola de casa, tinha decorado as instruções do computador. Claro que o celular tinha que ter o app do Banco (do Brasil). Fiquei esperando o app baixar e cedi meu lugar a uma senhora pensando: Deus tenha pena dela. A tela da sádica máquina me pediu para abrir o leitor de QR Code no aplicativo do banco. Demorei mas achei. Quando finalmente apontei para a tela o tempo havia se esgotado. Tentei de novo. Tive mais sorte, consegui ler, mas quando fui digitar o código já havia soado o gongo e voltei à estaca zero.

Lembrei da provável existência de seres humanos no local. Fui direcionado a uma gerente, uma senhora talvez um pouco mais velha do que eu. Contei dos meus percalços e ela me disse que seria tranquilo liberar meu computador ali mesmo. Enquanto ela realizava as operações iniciais, protestei contra um sistema tão complicado que boa parte dos correntistas mais velhos, inclusive eu (que uso computador há mais de 30 anos) sente-se diante de uma montanha instransponível. Ela riu, foi simpática, disse que era uma questão de segurança etc e tal. Mas quando ela pegou um papel com o passo-a-passo da operação, não perdoei. Apontei a ela que se uma gerente do banco precisava de instruções por escrito é porque o sistema era um labirinto digital. Riu amarelo e disse que íamos fazer tudo na máquina. Fomos até a algoz-mor de velhinhos e velhinhas em geral. Só que depois de várias tentativas a gerente se atrapalhou e não conseguiu dar conta do recado. Segurei o riso. Mas não a alegria quando ela pediu arrego e teve que buscar o auxílio de outra gerente, uma moça de vinte e poucos anos que já deve ter nascido com um chip no lugar do cérebro.

Saí de lá com o computador desbloqueado, a alma lavada e vingada. Ao chegar em casa, um dividendo inesperado: sem querer trouxe comigo a chave número três do armário. Um número que sempre me deu sorte.