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Histórias do Alvito – AO INVÉS DE DAR PEIXES

Histórias do Alvito
AO INVÉS DE DAR PEIXES…
Certa vez, quando um primo meu chamado Marcos Alvito fazia pesquisa na favela de Acari, foi chamado para fazer uma palestra para líderes comunitários da região. Ao final, uma senhora se aproximou e se identificou como voluntária em um projeto da igreja católica, no qual se distribuiam cestas básicas à população carente. Muito aflita, ela me perguntou o seguinte: por que muitos dos que recebiam as cestas maltratavam a ela e aos outros voluntários? Disse a ela não ter certeza, por não ter observado diretamente. Mas eu tinha uma hipótese. A caridade estabelece uma relação hierárquica: aquele que dá fica acima de quem recebe, por melhores que sejam as suas intenções. Se quem recebe não tem a oportunidade de dar algo em troca, de mostrar o seu valor, ele se sente humilhado.
Mais tarde, em uma banca de mestrado, vim a conhecer um projeto que dava conta muito bem dessa dinâmica. Um líder comunitário de uma favela recebia mensalmente um certo número de cestas básicas para distribuir junto aos mais necessitados. Mas ele, com muita sensibilidade, não simplesmente doava estas cestas e sim as trocava por trabalho comunitário. A cozinheira desempregada fazia uma feijoada para a comunidade. O eletricista desempregado consertava a rede de energia elétrica da favela e assim por diante. Criava-se um círculo de reciprocidade que acaba por alcançar a todos. E as cestas chegavam a quem precisava.
Através de minha filha, vim a conhecer uma entidade que atua em 18 países da América Latina fazendo exatamente este tipo de ponte. Chama-se TETO e arregimenta voluntários para participarem da construção de moradias juntamente com os que hoje moram em casas precárias, insalubres e perigosas. Muitos estudantes de Ensino Médio participam, esse trabalho os entusiasma tanto que as vagas para meter a mão na massa (e na argamassa) são disputadas.
Alegra-me muito saber que minha filha estará entre eles.
Pois o que eu deveria ter dito àquela senhora, com todo o respeito, já que ela se disse católica, foi o que Jesus mesmo disse:
“Dás a vara, ensinas a pescar, mas não dês o peixe, deixa que aprendam experienciando, para que cresçam em sabedoria!”
Ou, pelo menos, se não tiver a vara para dar, participe da pescaria junto com eles.