Histórias do Alvito
COOKIE
Como se costumava dizer do Botafogo, há coisas que só acontecem em Santa Teresa. Deve ser o único bairro do Rio que tem tantos cinemas (um) quanto farmácias (uma) e supermercados (um). E o único cinema do mundo, o simpático e intimista Cine Santa, que não é segurado pelo CityBank, Sul-América ou Itaú e sim por Santa Teresa D’Ávila que recebe os devidos créditos antes de cada sessão.
Ao invés de MacDonalds ou Bob’s, Santa tem talvez o melhor pão de queijo do Rio no Cultivar. Tem muitos ateliês e a turma gosta de grafitar e pintar muros e até postes transformados em jardins virtuais. O destaque vai para um lindo mosaico de pequenos bondes de azulejos criados por um coletivo de artistas na luta pela volta da forma de transporte que espelha a alma do bairro.
Santa tem tudo isso e mais e depois de seis anos como morador eu achei que já tivesse visto de tudo por aqui. Até ontem. Fui à janela ver. Uma moça passava em um fusquinha branco empunhando um megafone. Estava em busca do Cookie, um gatinho tigrado que, segundo ela, não tem coleira mas tem um chip implantado. Quem achasse um gatinho assim deveria ir ao veterinário para acessar o chip e se certificar que a ela pertencia. Prometia pagar a consulta do veterinário e dar uma recompensa. Ontem ela subiu e desceu a minha rua várias vezes, a voz cada vez mais cansada, o tom cada vez mais desesperado. Hoje passou novamente, o que me levou a escrever este texto.
Sonhador que sou, fiquei imaginando se a moda pega. Homens e mulheres alardeando a perda de um amor, descrevendo seu amado ou amada, prometendo gratidão e recompensa. Mas como reencontrá-lo sem chip?
E é lógico que iriam faltar fusquinhas.