/Histórias do Alvito – ERA UMA VEZ UM MATA-PAU QUE ENGOLIU UMA PALMEIRA

Histórias do Alvito – ERA UMA VEZ UM MATA-PAU QUE ENGOLIU UMA PALMEIRA

Histórias do Alvito – ERA UMA VEZ UM MATA-PAU QUE ENGOLIU UMA PALMEIRA
Foram os sete reais e cinquenta centavos mais bem gastos da minha vida. Foi quanto custou o ingresso de velho para o Jardim Botânico neste sábado, 24 de setembro, em plena primavera. Desta vez fui ali com um propósito específico: caminhar pela trilha das árvores gigantes do arboreto. Na verdade, assisti a uma aula em movimento dada pelo ótimo botânico Marcus Nadruz, pesquisador da instituição e funcionário do Jardim Botânico há quarenta anos.
Com muita verve, humor e profundo conhecimento tanto da flora quanto do parque, Marcus encantou a todos com um passeio que serviu como verdadeira introdução à botânica. Nestas horas é que se vê o quanto vale a gente ser ignorante, desde que sejamos ignorantes conscientes do nosso não-saber: aprende-se muito. E aprender sempre foi a minha brincadeira preferida.
A primeira coisa que nos ensinou é que as tais “árvores gigantes”, que no JB oscilam entre 30 (um Pau Mulato) e 48 (uma palmeira imperial) metros, são importantíssimas na natureza. No alto, formam um micro-clima – em termos de temperatura, luminosidade e umidade, que permite a existência de espécies vegetais e animais que não florescem no chão, além de servir para a feitura de ninhos. No Brasil a árvore mais alta já descoberta (na Amazônia) é um angelim-vermelho com 88 metros de altura e um tronco de 9 metros de diâmetro.
Marcus também apontou que a existência de líquens no tronco das árvores indica que elas estão em local de ar puro. Dica excelente para medirmos a existência maior ou menor de poluição (que alguma sempre há). E ensinou que há dois tipos de espécies que parasitam árvores. Não me lembro dos termos científicos, mas há parasitas que se apoiam nas árvores sem lhes causar nenhum dano, como as bromélias, as orquídeas e os cactos por exemplo.
Quanto às parasitas nefastas, digamos assim, Marcus nos mostrou um exemplo prático, um mata-pau que literalmente engoliu uma palmeira. O curioso é que ele cresceu tanto às custas da tadinha que agora é bem maior que ela e, em um olhar desavisado, parece que ela é a invasora. Prefiro não pensar no potencial dessa metáfora para explicar a política brasileira…
Fiquei pasmo ao saber que as palmeiras, inclusive o meu amado buriti, não são árvores, por conta do tipo de raiz e pela ausência de ramos. Estou citando de memória, é melhor vocês checarem em um manual de botânica.
Também me impressionou a divisão de trabalho dos funcionários e pesquisadores do JB, os quais, mesmo com todos os cortes de verba, conseguem manter o parque como uma instituição científica e também aberta ao público. A competência de Marcus Nadruz e da paisagista que também veio no passeio marcou a todos. Quando ela explicou todas as etapas necessárias para implantar e manter o roseiral, em um meio-ambiente até certo ponto hostil a essa flor, recebeu uma salva de palmas das trinta e poucas pessoas presentes.
Para “piorar” estava uma gloriosa manhã de primavera em um dos lugares mais lindos desta cidade. Saí caminhando pelas aléias com a alma banhada na vereda e posta a secar no verão de Urucuia (que saudade!). Distraído, vejo uma árvore belíssima, não muito alta, mas que literalmente dominava uma pequena praça, seus troncos se espalhando feito raios de sol, alguns deles tocando o chão. A vontade era abrir uma cadeira de praia (carioca sempre dá um jeito de falar em praia), pegar um livro e sonhar com palavras.
Não, não era nenhuma árvore exótica e desconhecida, trazida com a finalidade de exemplificar a variedade das espécies existentes nos diversos continentes.
Era uma boa e velha mangueira.
Foto: O botânico e pesquisador Marcus Nadruz, do Jardim Botânico, serve de guia na Trilha das Árvores Gigantes, 24 de setembro de 2022. Foto: M.A.
P.S: No centro de visitantes, em frente ao portão de entrada, há folders com as várias trilhas possíveis: indígena, africana, da Amazônia, das palmeiras, históricas e também das árvores gigantes. São gratuitos, é só solicitar.
Pode ser uma imagem de 9 pessoas, pessoas em pé, árvore e ao ar livre
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