HISTÓRIAS DO ALVITO – LINDINHA – PARTE 2
Sem mamãe, Lindinha ficou desorientada. Mas a danada sempre foi sortuda. Foi acolhida por minha irmã, a mais doce e bondosa criatura da face da Terra. De início andou arranhando covardemente as pernas das minhas sobrinhas. Meu cunhado até hoje não ousa pôr (odeio reformas ortográficas idiotas) a mão nela. Só mesmo a minha irmã para ousar colocá-la no colo para fazer um carinho e retirar um pouco do mar de pêlos (idem, viva o acento diferencial).
Com o tempo, acalmou. Irreconhecível, não arranha mais ninguém. Mas ainda ameaça. Pesada e esférica, arrasta-se pela casa e agora, quando se esfrega numa perna não é mais uma armadilha, é apenas um pedido de carinho. Para chamar atenção, fez um estudo minucioso dos trajetos percorridos pelos habitantes da casa, postando-se como um obstáculo: no meio do caminho tinha uma gata.
Antes da pandemia, quando podia ir à casa da minha irmã, eu não resistia a fazer um carinho nessa malvada redimida. Ficava pensando quantas vezes as mãos de mamãe haviam afagado aquela gata que, por uma ironia da vida, se tornou um laço de amor.