Ele nasceu na Bahia, era soteropolitano sim senhor e lembrava muito bem de brincar de lanchinha pop-pop (nem no Wikipédia tem, risos) entre as pedras da praia de Rio Vermelho. Morava na Ladeira do Papagaio, o que era perfeito para quem tinha um nariz bem turco. Mas só ficou até oito anos na Boa Terra e depois morou, estudou e viveu no Rio de Janeiro o restante da sua vida.
Mesmo assim, meu pai tinha um lado baiano bem claro, trabalhava duro mas nunca perdia de vista o prazer: na adolescência participava de um conjunto de samba com os amigos, pedia o jipe de um deles emprestado para ir namorar no Joá (também não tem no Wikipédia o que iam fazer por lá) e, quando casado com minha mãe nunca deixava de ir ao cinema ao menos duas vezes por semana.
Para mim, na verdade, o que o faz bem baiano era a maneira de transmitir a sua sabedoria. Embora professor universitário, nunca citava estatísticas, dados científicos ou reportagens. Preferia o comentário minimalista, às vezes escondido em uma música ou em apenas uma frase.
O ensinamento mais importante, além dos exemplos, veio um dia quando me disse, sem alterar a voz, disfarçando a importância do que ia falar:
— Filho, se você quiser e puder fazer uma coisa, faça logo, faça hoje mesmo, porque amanhã tudo muda. Sobretudo no Brasil.
Em meio à pandemia do corona, que virou nossas vidas de cabeça para baixo, no mínimo, posso dizer que as palavras do bom baiano continuam a valer mais do que ouro.