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Histórias do Alvito – O VÉI CHEGOU !

Histórias do Alvito
O VÉI CHEGOU !
O título é roubado, assim é mais gostoso. Mas vou dar os créditos para o caboclo não me processar. “O véi chegou” é o nome de um CD do forrozeiro Paulo Junior. Esta postagem não tem nada a ver com a música. Mas quando eu estava pesquisando a palavra “véi” apareceu esse título e achei bom.
A ideia me veio na academia, em Blumenau. Os professores são simpáticos e explicam com paciência os exercícios, mesmo que seja pela milésima vez. Não ficam só cercando as “boazudas” como papai as chamava. Por conta disso, aqui conheço a maioria dos professores e conversamos um pouco sobre tudo, de futebol à vida amorosa, passando pelas características da cidade.
Só que um dia entro na academia e um deles me recebe com um vasto sorriso dizendo:
— Chegou a lenda!
“A lenda”, como todos sabem, é um filme protagonizado por Will Smith, ator talentoso e recordista do Guiness por ter desferido o primeiro soco (de verdade, para doer) em plena premiação do Oscar. Mas eu não dou soco em ninguém, não sou estrela de cinema e embora meu pai fosse baiano a minha pigmentação é bastante pálida.
Refletindo, finalmente entendi que era outra coisa. Todas as vezes em que frequentei a academia, e o faço há mais de seis meses, reparei ser a pessoa mais velha a praticar o doce esporte de malhar ferro para fortalecer a carroceria. Até perguntei se havia alguém da minha faixa etária e um deles observou:
— É, tem o Cardoso… mas ele só tem 59! (o meu motor é 6.3)
A partir daí, percebi que me tornara o véi da academia. Não só da academia. No meu prédio é raro ver alguém que não seja ao menos 25 anos mais novo do que eu. E já vejo a hora em que algum casal vai dizer para o seu filho pequeno:
— Dá bom dia pro vovô!
Eu me orgulho do meu cabelo surfista prateado, sem falar em tudo que sofri, em todos os meus erros, pois a maioria deles aconteceu quando eu tentava acertar, o que na minha idade sei não ser a coisa mais fácil do mundo. Houve também alguns acertos, até mesmo por acaso. E não posso falar que não tenha tido alegrias.
Não se preocupem, esta parolagem não vai descambar para um balanço da minha vida. Menino de 12 anos que sou (tirando a lataria), prefiro aqueles balanços de praça mesmo, mas eles não aguentam mais o meu peso, sem falar que posso dar um jeito na coluna.
Gosto de ser o véi. É o jeito! É melhor do que a groselha adocicada do politicamente correto: meia-idade, terceira idade, “melhor idade”. Que arda no inferno fumegante, trespassado de punhais afiados, o publicitário de vinte e dois anos que inventou essa última mentira.
Por isso, peço aos mais jovens apenas uma coisa, podem encher a boca e me saudar sem esse negócio de lenda ou qualquer outra metáfora ou eufemismo.
Basta dizer, tão simplesmente:
— O véi chegou!