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Histórias do Alvito – UM MACHADO QUE AINDA CORTA

Histórias do Alvito
UM MACHADO QUE AINDA CORTA
Imaginem a cena. Última aula do curso Mulheres de Machado, em que trabalhamos dezoito contos do bruxo que se relacionam à condição feminina. Uma das grandes surpresas: as alunas do curso conseguiram relacionar os contos, alguns escritos há mais de um século e meio, com as questões que ainda assolam as mulheres em pleno século XXI.
No final dessa aula derradeira, pedi a elas que avaliassem o curso em termos do corpus utilizado, da metodologia das palavras-chave e, é lógico, em termos dos objetivos de cada uma, se haviam sido alcançados ou não. Elas foram generosas com o professor e, além disso, todas destacaram o quanto haviam aprendido umas com as outras.
No apagar das luzes, uma delas pede a palavra. Conta que a mãe, uma escritora, hoje se encontra acamada, sem poder falar, cercada de cuidadoras todo o tempo. Segundo ela, normalmente as moças costumam colocar a televisão ligada nas novelas. A aluna, todavia, levou para a mãe ouvir as gravações da leitura dos contos (feita por mim) e os debates em torno dos mesmos. Afinal a mãe, como escritora, poderia gostar de ouvir aquilo.
O inesperado aconteceu: as cuidadoras também gostaram e passaram a debater as situações dos contos machadianos feito costumam conversar acerca das novelas, avaliando o comportamento das personagens e o desfecho das situações. Eu fiquei feliz feito um menino de doze anos.
Não se pode dizer que o “povo” goste somente de novelas quando somente novelas sejam acessíveis.
Ah, Joaquim Maria, teu Machado continua afiado!