UM VIADUTO PARA CHAMAR DE SEU
(Marcos Alvito)
Zanzando com o burrinho pedrês pelas impecáveis estradas do interior de São Paulo, fiquei espantado. Todos, absolutamente todos os viadutos do caminho que percorri, centenas de quilômetros, tinham viadutos que ostentavam nomes em letras gigantescas, majestáticas, só faltavam as luzes de neon. Em sua maioria eram nomes masculinos, decerto de varões impolutos e bigodudos. Fico imaginando quem gostaria de ter seu nome em um viaduto. Mas, refletindo um pouco, o viaduto passa por cima de muita coisa e de muita gente, portanto, nesse Brasil brasileiro muitos devem ser os candidatos ao batismo viadutal. Mas encaminhe logo a sua solicitação em três vias porque a procura é enorme. Como você sabe, o pedido só é atendido post-mortem, mas este detalhe não é nada perto da glória eterna.
Como os viadutos são muito poucos, tendo em vista o enorme número de interessados, sugiro outras possibilidades de batismo rodoviário. Curvas, por exemplo. Nada mais sensual do que curva perigosa para a esquerda Fulana de tal. Curva perigosa para a direita é redundante, mas nos tempos que correm o título seria disputado, infelizmente. Se curvas são atraentes, imaginem só as lombadas. Atrizes que se consideram pouco aquinhoadas neste item a ponto de fazerem operações de enchimento poderiam ter a sua auto-estima levantada por uma singela placa: Lombada Sicrana.
Outra enorme possibilidade se abre para os acostamentos, embora aqui o uso seja muito complicado, veja lá com que você vai se acostar, não é mesmo?
Nessas estradas bem cuidadas daqui, com duas, três pistas de cada lado, normalmente há um gramado côncavo a separá-las, uma vala, se quiserem. Aqui, todavia, creio que a nomeação deve ser restrita ao mais alto mandatário da nação, afinal foi ele que nos atirou na vala econômica, política, social, cultural, educacional e sanitária. Por isso proponho que todas elas se chamem Vala Jair Bolsonaro. Com placas de neon, é claro. Ele merece!