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Histórias do Alvito – VEREDAS DE AREIA

Histórias do Alvito
VEREDAS DE AREIA
É uma pena que Jorge Luis Borges não tenha conhecido Guimarães Rosa e, ao que parece, não tenha lido Grande sertão: veredas. Afinal, o grande escritor argentino era fascinado por livros, labirintos e por infinitos, possíveis e imaginários.
Ele teria adorado se perder nos labirintos narrativos de Grande sertão: veredas e ficaria extasiado ao perceber quantos livros cabem dentro desse livro. Um dos seus contos se intitula “Livro de Areia”. Na história, o sujeito compra um volume de páginas infinitas e incertas e acaba prisioneiro do livro, tendo que pensar em como se livrar dele.
Grande sertão: veredas é assim, um livro infinito. Até acho graça nas tentativas feitas por grandes sábios que querem reduzi-lo a uma ou outra ideia central. Agora imaginem a tarefa de ler um livro assim. Só adotando o conselho de Rosa: ler, reler e tresler, o que significa arriscar uma interpretação, mas só na terceira margem da leitura…
Todo o pouco que sei deste livro que me seduziu e aprisionou docemente eu aprendi em sala de aula, com meus alunos e alunas.
Primeiramente com meus alunos da universidade, com quem ensaiei uma primeira interpretação e a quem agradeço pelo carinho e paciência com que suportaram um impostor.
Depois com a turma entusiasmada que começou a ler o livro comigo na Biblioteca Parque Estadual, um Guararavacã do Guaicuí que durou muito pouco, infelizmente.
Em seguida um primeiro curso compacto intitulado Experimentando o Grande sertão e que se realizou no simpático Terracinho com uma turma que já tinha trabalhado “A hora e vez de Augusto Matraga”.
Voltamos à leitura integral do texto com uma pequena mas adorável turma acolhida no Leblon pela hospitalidade de João e Isabel.
Outra turma topou ler o livro do início ao fim, desta vez reunida na Lagoa sob o abrigo generoso e simpático de mãe e filha: Rosa e Mariana.
Um grupo de amigos, reunido em torno do casal Ruth e Fernando no Flamengo, também fez a travessia completa com muita alegria.
A partir daí, tivemos que caminhar virtualmente.
Veio o inesquecível Bando do Rosa, um agrupamento com ilustres presenças internacionais, inclusive.
Em meio a ele, um curso introdutório, com uma turma interessante e valente por enfrentar esse primeiro contato com pouco tempo para aprofundamento.
Em pleno andamento, o doce e divertido Bando Diadorim, nesse momento quase no meio do Grande sertão.
E o Bando Sagarana, com uma jagunçada de primeira, que está terminando de ler “O burrinho pedrês”, a primeira novela do livro.
Eu aprendi tanto com todos estes grupos de alunos e alunas, de uma forma tão prazerosa, que por mim eu fico abraçado a este livro infinito até quando os deuses me permitirem. Ao contrário do personagem de Borges, não quero fugir desta prisão feita de veredas de areia.
Muito obrigado, queridos e queridas e o meu tradicional
abraço rosiano,
Marcos Alvito