Há dois dias, publiquei um dos meus tijolinhos (“O sonho do ponta-direita”) e algumas pessoas reclamaram da ausência dos laterais e do camisa 8 no que chamei de “horóscopo do futebol”.
É uma banalidade dizer isso, mas é óbvio que os laterais representam a classe trabalhadora explorada. Ninguém corre mais do que eles, literalmente para lá e para cá. Têm que saber atacar e defender igualmente bem. E são sempre culpados: ou alguém faz um gol explorando seus avanços ao ataque ou podem escolher serem acusados de não apoiarem o ataque o suficiente. Se o time não consegue envolver os adversários com passes e deslocamentos, os laterais acabam lançando inúmeras bolas sobre a área, sendo acusados de falta de imaginação futebolística. Quando um lateral é muito habilidoso se diz que ele deveria jogar no meio de campo. Ou seja, a expressão “um bom lateral” é quase uma contradição em termos.
Vamos agora ao camisa 8. É, sem dúvida, um caso complexo. O oito deitado é o símbolo do infinito e podemos dizer que não se espera menos do que a perfeição do camisa 8. Ele tem que ser a ligação bem azeitada entre o ataque e a defesa, saber ajudar o volante a defender e o camisa 10 a atacar. Precisa saber desarmar, armar, lançar, chutar e de preferência cabecear também. Tem que ter cérebro e muita perna. Sinto que ainda não o decifrei, mas talvez esta indefinição, este hibridismo, seja a sua característica principal.
Perdoem este arremedo de complemento, o fiz apenas a pedidos, mas sinto que dei um chutão de qualquer jeito, perna-de-pau que sou.
PS: Reparem que é apenas uma brincadeira e que diz respeito ao futebol de antigamente, no máximo até a década de 70.