“Em frente dessa parede havia uma encosta na qual ficava encravada uma pedra um pouco saliente – minha pedra. Às vezes, quando estava só sentava-me nela e então começava um jogo de pensamentos que seguia mais ou menos este curso: ‘Eu estou sentado nesta pedra. Eu, em cima, ela, embaixo.’ Mas a pedra também poderia dizer ‘eu’ e pensar: ‘Eu estou aqui, neste declive, e ele está sentado em cima de mim.’ – Surgia então a pergunta: ‘Sou aquele que está sentado na pedra, ou sou a pedra na qual ele está sentado?’ – Esta pergunta sempre me perturbava: eu me erguia, duvidava de mim mesmo, meditando acerca de ‘quem seria o quê?’. Isto não se esclarecia e minha incerteza era acompanhada pelo sentimento de uma obscuridade estranha e fascinante. O fato indubitável era que essa pedra tinha uma singular relação comigo. Eu podia ficar sentado nela horas inteiras, enfeitiçado pelo enigma que ela me propunha.”
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