“Trinta anos mais tarde encontrei-me de novo no flanco dessa colina; já era casado, tinha filhos, uma casa, um lugar no mundo, a cabeça cheia de ideias e projetos e, repentinamente, redescobri em mim a criança que acende uma fogueira cheia de significações secretas, que se senta numa pedra sem saber se ela é pedra ou se a pedra é ela. – Lembrei-me bruscamente de minha vida em Zurique e ela me pareceu estranha como uma mensagem vinda de outro mundo e de outro tempo. Isto era simultaneamente terrível e cheio de sedução. O mundo da minha infância, no qual eu acabava de mergulhar, era eterno e dele eu fora arrancado, precipitado num tempo que ia rolando incessantemente e se afastando cada vez mais. Tive que me desviar à força desse lugar para não comprometer o meu futuro.”
(páginas 41-42)