“Só nesta época compreendi que éramos pobres; meu pai, nada mais do que um pobre pastor luterano de aldeia, e eu – assistindo com os sapatos furados e as meias molhadas seis horas de aula a fio -, o filho ainda mais pobre desse pastor! Comecei a olhar meus pais com olhos diferentes, compreendendo-lhes as preocupações e aflições. Tinha pena principalmente de meu pai e – fato singular – me condoía menos de minha mãe. Ela parecia a mais forte. Tomava entretanto o partido dela todas as vezes que meu pai não conseguia dominar sua irritação caprichosa. Tal situação não era propriamente favorável à formação do meu caráter. A fim de livrar-me desses conflitos, eu assumia o papel de árbitro superior, forçado – nolens volens – a julgar meus pais. Isso provocou em mim uma espécie de inflação que, simultaneamente, aumentava e diminuía a minha segurança, por si mesma bem vacilante.”
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