Lobo esfaimado vagando na Sibéria digital, vasculho uma palavrinha tua, uma imagem, quem sabe uma música. Todas as portas fechadas: face, insta, twitter, email. Nenhum vestígio ou pegada. O nosso amor não existe mais no espaço nem no hiperespaço. Tu continuas existindo, um farol poderoso, que não aponta na minha direção nem uma migalhinha de luz. Morri. Quem está escrevendo é meu fantasma. Se é assim, por que não acreditar em piratas, navios mal-assombrados e cartas colocadas em garrafas? Pode ser que uma delas venha dar à minha praia. Talvez possa ler, ao desenrolar o papel: eu te amo. Mas sei que a garrafa foi lançada ao mar em um passado já passado feito onda que se desmanchou em espuma. Mesmo assim abraçarei o papel e as sete mágicas letrinhas, como um náufrago se agarra a um pedaço de madeira.
Histórias do Alvito17 de outubro de 2019