O menino adora festa, mesmo que seja de aniversário, nem tudo é perfeito. Pelo menos nessas tem aqueles balões coloridos, bons de brincar. Outro dia, já cansadinho, o menino se sentou com um balão vermelho no colo. E o balão começou a conversar com ele:
– Oi, menino, menino…
– Quem é que está falando comigo?
– Sou eu, o balão vermelho em suas mãos.
– Você fala, balãozinho?
– Só com crianças muito bacanas.
– Poxa, obrigado, converso com minha gatinha, tenho um amigo imaginário chamado Alvito mas nunca tive essa oportunidade de conversar com um balão de aniversário. Conta alguma coisa aí, vermelhinho.
– Olha, vida de balão dura muito pouco, mas a sabedoria vai sendo transmitida de um pra outro. Assim chegamos a uma conclusão sobre os humanos depois de frequentarmos milhões, talvez bilhões de festas de aniversário…
– Já sei, os adultos são chatos e não sabem viver!
– Calma, menino, vou te dizer. Existem três tipos de pessoas. Há as mais bacanas, sensacionais, indispensáveis…
– Quem são? O que fazem.
– São aquelas que vão à festa para ajudar os outros a se divertirem. São as que ficam enchendo os balões, gastando o fôlego para ver a alegria das crianças… Às vezes nem dá tempo de brincarem um pouco, mas ficam felizes com a alegria dos outros.
– É verdade, esses são poucos mas preciosos, né?
– Sim, pouquíssimos. E há também os do segundo tipo, que são bons, mas poderiam ser melhores.
– Como assim?
– Eles vão à festa para se divertirem e não ligam muito para os outros. Dão uma sopradinha de balão aqui e ali, para disfarçar, dão uma desculpa e saem pela festa brincando com os balões que os outros encheram. Esses são muitos, eu diria que são a maioria.
– E tem mais algum tipo?
– Infelizmente tem. É um grupo pequeno, mas que vem crescendo muito. Estes são execráveis…
– O que é execráveis?
– Vou explicar e você vai entender… São aqueles que dizem estar doentes para não soprar balão, não sabem se divertir com um e cuja única alegria é furar o balão dos outros…
– Nossa, esses execráveis são terríveis…
– Você não viu nada, tem os do tipo passivo, que comemoram calados quando um balão esvazia ou voa pela janela. E tem o pior tipo, que leva no bolso alfinete pra furar o balão dos outros.
– Pelamordedeusnossasenhora, balãozinho, nem sabia que podia existir gente assim.
– Ih, menino, como diz uma música do Paulinho da Viola que ouvi numa festa, “a maldade não tem fim”
– Pensando bem, agora entendi uma coisa. O pai do Alvito, um bom baiano chamado Dario, às vezes voltava pra casa tristonho e quando a gente perguntava o que tinha acontecido com ele, dizia: – Conversei com fulano e ele me esvaziou…
– Esquece isso, menino, que tal a gente brincar um pouco?
– Vambora, vermelhinho!