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O PRAZER EM PRIMEIRO LUGAR: DECLARAÇÃO DE PRINCÍPIOS DO CLUBE DE FICÇÃO ONLINE

Escrevi esta declaração de princípios para o Clube de Ficção ONLINE e gostaria de compartilhá-la aqui também:
DECLARAÇÃO DE PRINCÍPIOS do Clube de Ficção Online (10 de junho de 2020)
Julio Cortázar tem um conto maravilhoso chamado “Continuidade dos parques”, publicado no mesmo ano que Grande sertão: veredas, 1956. Em aproximadamente duas páginas ele comprova (sem formular hipóteses) que vida e literatura não podem ser separadas. Curiosamente, meu querido Rosa, apontou como lema o seguinte: “a linguagem e a vida são uma coisa só.”
Isso aqui é um clube. Não é um curso. Não é uma universidade. O saber acadêmico gosta de espetar borboletas em caixinhas para estuda-las, se esquecendo que elas só existem vivas, voando. Em termos de literatura, deixa-se o prazer de lado e reinam os torneios intelectuais de erudição e narcisismo. Não desprezo a leitura dos acadêmicos e de suas preciosas contribuições, mas sirvo-me delas para o meu objetivo que é um só: o prazer da leitura.
Prazer tem um sentido amplo e pode incluir o que aprendemos em termos de história, costumes, formas de pensar etc. Mas sobretudo remete a essa capacidade de acreditar na invenção e na fantasia e por ela se deixar levar, vivenciando-a.
Lévi-Strauss escreveu certa vez que a música, na verdade, toca de dentro para fora, o corpo é o seu instrumento, o ritmo, por exemplo, só é sentido em relação aos batimentos cardíacos, à nossa pressão sanguínea, respiração. Curiosamente o surdo de marcação das escolas de samba bate 80 vezes por minuto, exatamente a média de um coração saudável. E quem não se sentiu abalado fisicamente diante da música?
Mais uma vez citando Guimarães Rosa, ele dizia:
“sobre minha relação com a língua. É um relacionamento familiar, amoroso. A língua e eu somos um casal de amantes que procriam apaixonadamente, mas a quem até hoje foi negada a benção eclesiástica e científica.”
Gostaria que nossas leituras fossem feitas dessa maneira carnal, amorosa. Se a música é tocada pelo corpo, que deixemos nossas almas serem tocadas pela literatura.
Nosso grupo é muito heterogêneo, o que é uma chance maravilhosa. Que respeitemos uns aos outros, que estejamos dispostos a aprender uns com os outros.
Por falar em música. Hoje, mesmo sem merecimento, estou encarregado – o que para mim é uma honra, de ser o maestro desta orquestra. Vocês são os músicos, cada um com seu instrumento.
Com dedicação, companheirismo e alegria, faremos (adoro rimas fáceis, sou uma criança de 12 anos) uma linda sinfonia.
Marcos Alvito