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Pra que serve a caipirinha

Histórias do Alvito (2a. a 6a. quase sempre depois das 7:07)
 
PRA QUE SERVE A CAIPIRINHA
 
Tio Amarílio era o irmão de papai e meu padrinho. Gostava de fumar cachimbo, lia muito e tinha uma inteligência incisiva, crítica, que de repente rompia em uma frase inesperada. Ele era engenheiro sanitarista e durante muito tempo trabalhou no órgão estadual encarregado do meio ambiente, a FEEMA. Na década de 70, durante a ditadura militar, vira e mexe a FEEMA recebia a visita de engenheiros norte-americanos. Até aí tudo bem. Só que os caras, contava Tio Amarílio, queriam saber de tudo, cada detalhe. E não ficavam contentes em perguntar, também davam palpite, dizendo que deveria ser assim e assado. Meu tio, baianamente, sorria e esperava. Aquilo durava toda uma interminável manhã. Na hora do almoço ele levava os gringos para uma churrascaria. O mundo ainda não era globalizado e Tio Amarílio aproveitava. Pedia uma rodada geral de caipirinha, dizendo que era uma bebidinha brasileira muito suave, que todos podiam beber sem medo. Depois, dá-lhe carne e mais carne. Alguns repetiam a doce bebida tupiniquim. Quando estavam todos mais do que lotados, aí sim, Tio Amarílio retornava à FEEMA para continuar a visita na parte da tarde. Mostrava tudo, explicava e perguntava:
 
– Any questions?
 
Nenhuma. A turma da terra do Tio Sam agora estava sonhando com a caminha do hotel, com a caipirinha fazendo as ideias dançarem no cérebro, o corpo pesado pela comilança de picanha, linguiça e tudo mais.
 
Quem manda mexer com Tio Amarílio?