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SÁBADO BÁRBARO

SÁBADO BÁRBARO

É um provérbio muito conhecido: “O futebol é um jogo para cavalheiros jogado por bárbaros, enquanto o rugby é um jogo para bárbaros jogado por cavalheiros”. Afinal, é verdade que o rugby é um jogo de contato físico constante e duro. Jogadores de rugby costumam contar suas histórias através de suas cicatrizes. Seu amor ao esporte se traduz em contusões, fraturas, hematomas. Tudo parte do jogo. Que exige uma dedicação ímpar a treinos e jogos. Ao ponto de existir a tradição em alguns países de chamar as mulheres de jogadores de rugby de “viúvas do rugby”.

Mas é raro no rugby que uma contusão seja derivada de um lance em que seu adversário quis te machucar propositalmente. Há, realmente, um espírito cavalheiresco, ao menos no rugby amador. Se você duvida disso, é uma pena que não esteve sábado passado no Campo Olímpico do Fundão para ver a partida entre UFF Rugby e o Mercedes da Argentina. Ali eu vi cenas muito bonitas dentro e fora de campo.

Quando o time argentino chegou ao campo, com suas camisas vermelho-amarelas, foi aplaudido pelos jogadores da UFF Rugby, que desta forma saudavam aqueles sem os quais a partida não seria possível, sem falar na distância que os jogadores do Mercedes tiveram que percorrer até chegar ali. Durante o jogo, muito bem disputado, qualquer jogador que fosse obrigado a sair de campo era aplaudido pelas equipes e pela torcida presente, argentina e brasileira: era um guerreiro que havia cumprido seu papel.

Dentro de campo, só os capitães podem falar com o juiz ou os bandeirinhas. O juiz e seus auxiliares não são cercados e ameaçados como no esporte da bola redonda. Não presenciei nenhuma discussão entre os jogadores e o jogo, repito, estava disputadíssimo. Os Quero-Queros tiveram uma atuação impecável no primeiro tempo, do qual saíram vencedores por 13 a 12. Na segunda etapa o Mercedes virou a partida, embora a UFF Rugby tenha lutado até o fim.

Depois do término da partida é que ocorrem os lances mais bonitos. O time da UFF forma um corredor polonês do Bem e começa a gritar o nome do time argentino a plenos pulmões. Os argentinos se agacham e seguram uns nos outros fazendo uma espécie de trenzinho brincalhão. Passam pelo túnel recebendo de brincadeira tapas na cabeça dadas pelos jogadores da UFF Rugby. Depois os jogadores do Mercedes formam um túnel pelo qual passam os Quero-Queros enquanto os argentinos gritam Brasil, Brasil! Por fim, se misturam todos em um bololô tremendo, pulando e cantando e jogando bolas de rugby para o alto. Um verdadeiro carnaval.

Mas não ficou só aí. Depois disso tudo vem o terceiro tempo: os dois times vão juntos tomar cerveja, cantar, brincar e confraternizar, não importando quem ganhou ou perdeu, porque na verdade a grande vitória é encontrar uma outra equipe para disputar uma partida de forma leal.

Como diz o provérbio, o esporte pode ser bárbaro, mas é jogado por cavalheiros.