“Situado por imposição ancestral no centro dessa topografia política, o sobrado familiar ‘há de dar para a Câmara’ (como diz outro poema de Boitempo), há de ter, ‘no flanco a Matriz’ e há de ‘ter vista para a serra’ (o grifo é meu). Há de ter: a palavra da ordem e da autoridade que estrutura o poema, é o timbre e o registro de uma linhagem de oligarcas, de coronéis latifundiários donos da trama ‘de poder a poder’ que ordena o espaço, envolvendo a residência dos Andrade, a qual pertenceu ao bisavô, numa rede de instâncias públicas e privadas que amarra o urbano e o tectônico, os dispositivos civis, a igreja principal e a massa do pico do Cauê assomando entre ladeiras tortas, num horizonte inesperadamente íntimo, tudo encravado numa dobra entre a escala da cidade e a do perfil de ferro maciço.”
(pp. 30-31)