Desejo que me persegue desde adolescente. Não é esse que vocês estão pensando, esse também, mas é outro. Grande cidade, turbilhão de gentes na rua. Sempre me indaguei acerca de cada história. Do morador de rua com seus pés descalços e sujos e seu olhar esbugalhado. Que caminhos o levaram até ali? Quantos abandonos? A moça que vejo chorando ao telefone. Não há nada mais triste do que ver alguém no meio da rua, chorando. Morte? Amor? A morte do amor? E a nénem que passa levada no carrinho por uma mãe mais cansada do que encantada? Em que mundo vai viver? A senhora que se arrasta, encurvada, segurando-se às paredes como se tudo estivesse prestes a cair. De que foi feita a sua vida? Está em paz com suas escolhas? Meu desejo não é uma vontade de bisbilhotar a vida de ninguém. É apenas uma impressão de que o mundo seria melhor se todos soubessem e se importassem em saber o que levou cada um a ser o que é.