Meu primo de dez anos estava ligado a seu pai pelo esporte. Era o vínculo mais forte entre os dois. Assistir a jogos de futebol e sobretudo de basquete, pois o pai fora pivô do juvenil do Flamengo, do alto de apenas um metro e setenta e sete. Tudo muda. Mas naquele dia, ou melhor, naquela noite, iam assistir a uma luta de boxe. Não qualquer luta, mas uma batalha em 15 assaltos entre Joe Frazier, defendendo o título de pesos pesados e o lendário Muhammad Ali. Meu priminho adorava a postura irreverente e lúdica de Ali, quando dançava no ringue e desafiava seus oponentes como se fosse invencível e sem nenhum medo. Tempos depois ele foi descobrir como era a preparação física de Ali. Segundo o próprio, ele corria até ficar completamente esgotado, sem poder dar mais um passo. Aí corria mais dois quilômetros… Anos mais tarde admirou Ali mais ainda, por sua postura contra a Guerra do Vietnã.
O pai dele sabia daquela admiração do menino por Ali. E talvez já estivesse preocupado por que o garoto ostentava uma cabeleira de responsa, em 1971 isso cheirava a rebeldia. Sendo assim, propôs uma aposta. Ele dava um dinheirinho para o filho se Ali ganhasse. E o menino teria que cortar o cabelo em caso de derrota. Nem preciso dizer que Ali perdeu, todo mundo sabe. E o garoto teve que raspar o cabelo, devidamente enquadrado na ditadura capilar. Mas mesmo hoje, em que os cabelos são poucos, o que resta daquele menino não deixaria, nunca, de colocar suas fichas no sonho, de apostar em Muhammad Ali.