YES, NÓS TEMOS PRECONCEITO RACIAL NO BRASIL
Um aluno meu, sujeito bacana, bem intencionado, me fez uma pergunta estarrecedora:
Ouvindo e lendo diversas ideias, tenho uma pergunta sobre o preconceito no Brasil. Porque o indivíduo de pele negra é visto de forma negativa quando não é famoso e mora na favela. Por outro lado, indivíduos como Pelé, Glória Maria ou Joaquim Barbosa, são vistos muito positivamente ? O preconceito no fundo, seria a pobreza e a falta de escolaridade ?
Eis a minha RESPOSTA:
Caro X, há uma pesquisa muito esclarecedora a este respeito. Foi feita por Sérgio Adorno, um sociólogo professor da USP e do NEV, Núcleo de Estudos da Violência. Ele estudou as condenações por tráfico, homicídio e outros crimes pesados. As descobertas foram chocantes. Em condenados pelo mesmo tipo de crime, provenientes da mesma classe social, renda etc, havia um grupo que sistematicamente recebeu penas mais pesadas. Acertou quem adivinhou serem OS NEGROS. Depois ele examinou a questão das testemunhas de defesa. Descobriu que aqueles que tinham testemunhas de defesa brancas eram mais absolvidos ou recebiam penas menores. Os que só tinham testemunhas NEGRAS eram mais condenados e recebiam penas mais severas. Ou seja, cai por terra a ideia de que o preconceito seja somente de classe. Existe, efetivamente, um fortíssimo PRECONCEITO RACIAL no Brasil, isso é indubitável.
Ele se expressa de inúmeras formas: na escolha de parceiros de casamento, no tratamento dispensado pelas agências de saúde (há pesquisas comprovando isso também), nas escolas e até no futebol, onde jogadores negros são inúmeros, mas os técnicos negros são raridade. Celebridades como as mencionadas por você PARECEM pairar acima do bem e do mal, mas Pelé, por exemplo, é duramente ridicularizado pelos comentaristas esportivos (quase todos brancos), como se dissessem: jogar pode, pensar e opinar, não.
Alvito Uff Por fim, se você ainda tiver alguma dúvida a respeito, converse com os colegas histórico-sociologicamente negros do seu curso, pergunte a eles se existe discriminação ou não. Para quem é “branco” é fácil ignorar o racismo ou acreditar que ele não existe. Mas para quem é “negro” a história é outra: são os seguranças do shopping te seguindo, é a moça da loja te dizendo que aquilo é caro (ou seja: você não tem dinheiro pra comprar neguinho(a)) ou te olhando com cara de “o que é que você está fazendo aqui, não vai comprar nada mesmo”, são as crianças da escola te chamando de negão, tiziu, nego feio, cabelo bombril, é a família da tua namorada branca de olhando com espanto, é o cara andando na rua que tá com medo de você ser ladrão, é a polícia te parando toda hora pra pedir documentos com a maior “delicadeza”…
Uma última história. Fui dar uma aula na Favela de Acari, onde fiz trabalho de campo. Mencionei a questão do preconceito racial por parte da polícia em sala e perguntei aos meus alunos, todos moradores da favela, quem já havia sofrido com aquilo. Um aluno “branco” disse que tinha sido parado 4 vezes até agora, mas que, por coincidência, fora somente quando estava acompanhado de colegas negros. Outro aluno, um adolescente negro, disse que já tinha sido parado 100 vezes. Dei o intervalo: meu aluno negro retorna dizendo que agora eram 101 vezes, pois ao ir lá fora os policiais o haviam parado mais uma vez. E que tinham dado risada quando ele falou que estava no intervalo de uma aula…
Yes, além de bananas, nós temos preconceito racial…