COMO DAR AULA?

7 DICAS PARA FUGIR À AULA EXPOSITIVA COMO O DIABO FOGE DA CRUZ

Não sou pedagogo. Não fiz curso de extensão sobre o tema. Não li nenhum livro de Pedagogia ou de Prática de Ensino. Sou apenas um professor. E nesta condição afirmo: fuja da aula expositiva como o diabo foge da cruz. Aula expositiva é péssima e não funciona por vários motivos:

1. É chata, por mais brilhante que seja o profissional, inevitavelmente gera o maior inimigo da aprendizagem: o tédio, o desinteresse.

2. Não há interação com a turma, xs alunxs ficam passivos (ma non troppo) e o professor ou professora fica sem saber o que estão verdadeiramente pensando.

3. Parte da ilusão de que a professora ou o professor é o centro do conhecimento, o ponto de irradiação da luz, nega e desconhece os saberes dxs alunxs.

Então, como montar a aula? Aqui vão 7 dicas:

1. Coloque os seus alunos e alunas em um círculo, simbolizando e permitindo a troca democrática de conhecimentos; agora o professor ou professora é o maestro e a turma é a orquestra;

2. A cada aula proponha um texto a ser debatido (pode ser até mesmo de um livro didático); a aula é um debate do texto, em meio ao qual o professor irá fazer breves exposições de esclarecimento ou aprofundamento de determinados pontos; não se preocupe em falar tudo, mais à frente perguntas vão surgir e você poderá complementar seu pensamento;

3. O mais importante é ensinar as alunas e alunos a LER o texto. Eles têm que aprender a identificar, depois de saberem quem é o autor ou autora e quando o texto foi publicado:
– Qual é o objetivo do texto? Que perguntas ele busca responder?
– Quais são os conceitos centrais do texto?
– Qual a estrutura lógica do texto? Como ele se divide e desenvolve?
– Quais as conclusões principais do texto?
– Que críticas você faria ao texto? (se for pertinente)

4. Para ajudar neste objetivo de ensiná-los a LER, de torná-los independentes e pensantes, há vários “métodos”. O primeiro, do qual gosto muito, por envolver toda a turma, é você preparar um roteiro de perguntas acerca do texto. A primeira (Qual é o objetivo do texto) e a última (Quais as conclusões principais do texto) devem ser respondidas por todos. E as restantes devem ser atribuídas individualmente (ou em duplas ou trios).

P.ex: Hoje vou trabalhar com minha turma de História do Brasil IV um texto chamado “Lutas democráticas contra a Ditadura”. Eis aqui as 7 primeiras perguntas do roteiro (vejam que coloco as páginas onde estão as respostas para facilitar e agilizar):

ROTEIRO DE PERGUNTAS DO TEXTO 21 – ARAUJO –
“Lutas democráticas contra a ditadura”
(debate hoje, 4a. feira, 6/7)
P00: Qual o objetivo do texto (323)
INTRODUÇÃO: A DEFINIÇÃO DE UM OBJETO DE ESTUDO (323-326)
P01: Quais são os marcos cronológicos do que a autora define como “luta democrática contra a ditadura militar?” (323)
P02: Por que esse momento pode ser caracterizado como de luta democrática e em que difere do período anterior? (323-324)
P03: O que era a distensão política do governo Geisel? (324)
P04: Que confronto ocorria nesse período entre 1974-85? (324)
P05: Fale das prisões, atentados e assassinatos políticos ocorridos no período (324-325)
P06: Por que existem poucos estudos sobre a luta democrática contra a ditadura? (325-326)
P07: Qual a importância do tema? (326)

5. Este método do roteiro de perguntas pode ser “turbinado” dividindo-se a turma em dois grandes grupos encarregados de responder (um grupo responde perguntas ímpares e o outro pares), valendo um ponto para cada resposta certa. Motiva bastante a turma, cria um clima lúdico até. Mas nem todos os alunos gostam por causa da “competição”. Teste e avalie. Podem ser dois grupos da turma ou mesmo meninas x meninos.

6. Se o seu curso for de análise de fontes primárias e vocês estiverem trabalhando com um conto de Machado de Assis, por ex. Use a roda, sempre no sentido anti-horário para servir de protesto contra o tempo capitalista do relógio. Vá perguntando um a um o que cada aluno ou aluna tem a dizer sobre o texto. Entremeando com os seus comentários.

7. O professor não dá aula, nem os alunos a recebem. A aula é uma dinâmica contruída pelo conjunto da turma (aí incluído o professor). O melhor de fugir da aula expositiva é que não só os alunos irão aprender mais, o professor ou professora também será profundamente enriquecido(a) pelos saberes, visões e questões dos seus alunos e alunas. Para resumir tudo em uma palavra: deixe de lado a EXPOSIÇÃO e adote o DIÁLOGO.

Boa sorte e um abraço,

Alvito

P.S: Não existem fórmulas mágicas. Cabe a você experimentar e desenvolver seus próprios métodos e filosofia de trabalho, que vai ser sempre posta à prova a cada nova turma, a cada nova aula.

PPS: Se puder me mandar sugestões, críticas um feed-back eu humildemente agradeço 🙂