7 DICAS SIMPLES PRA VOCÊ FAZER SUA MONOGRAFIA
Drummond já dizia: “no meio do caminho tem uma pedra, tem uma pedra no meio do caminho”. Para muitxs estudantes, mais do que uma pedra, a monografia é um verdadeiro pedregulho entre elxs e o sonhado diploma. Monografia não é bicho de sete cabeças, mas exige uma preparação e um planejamento bem diferentes dos trabalhos normais da graduação. É, na verdade, seu primeiro trabalho autoral, que ficará guardado com o seu nome. Por isso é bom caprichar. Mas alto lá, use o bom senso, procure fazer um trabalho digno mas se lembre que você está só começando. Nada de propostas ou auto-exigências absurdas.
Lendo as 7 dicas isto vai ficar mais claro:
1. ESCOLHER O TEMA COM OS OLHOS NO CÉU E OS PÉS NO CHÃO. Sou totalmente a favor do prazer e da alegria . Sobretudo em termos de escolha de tema. Jamais impus um tema de monografia a um orientando ou orientanda. Tudo pode ser estudado historicamente, em um enfoque histórico. Escolha à vontade, mantenha seus olhos no céu. Mas tem que ter seus pés no chão também. Vamos dizer que você queira fazer uma monografia sobre E.T.s no Brasil. Tudo bem. Existem fontes para o tema? Talvez eles (E.T.s) até existam, sabe lá, mas são acessíveis? Você vai conseguir encontrá-los, se comunicar com eles e convencê-los a dar uma entrevista? Acho que não. Mas há cidades, como Varginha (MG) em que pessoas dizem ter visto e/ou conversado com eles. Você dispõe de tempo e dinheiro para ir até lá entrevistá-las (se elas toparem, pois o tema é controverso). Você não pode ir até lá? Mas há também a cobertura jornalística, talvez disponibilizada na Internet. Outra questão importante, não para o tema dos E.T.s, mas para outros: o tema já foi exaustivamente estudado? Perdi a conta de alunos que gostariam de fazer uma monografia sobre a Revolta da Vacina, tema sem dúvida fascinante, mas difícil de acrescentar algo depois de José Murilo de Carvalho e Sidney Chalhoub, dentre outros.
Às vezes, você terá que recuar um passinho. Ao invés de trabalhar com fontes primárias, o que sem dúvida é ideal como parte da formação de um historiador ou historiadora, pode ser mais inteligente nesta etapa fazer uma bela monografia resenhando de forma crítica a bibliografia. O que é um bom ponto de partida para uma futura dissertação. Mas não troque de tema porque um é mais fácil do que outro. De alguma forma faça que nem os apaixonados, procure ficar o mais perto possível da sua paixão. A monografia vai exigir muito tempo e sacrifícios e para suportar isso, só com o prazer e a alegria que derivam de estar estudando o que você gosta. Claro que nesta questão de viabilidade do tema o recurso a sua orientadora ou orientador é fundamental.
2. PLANEJE COM ANTECEDÊNCIA OU LEIA O ITEM 3
A monografia começa a ser feita muito antes de você se inscrever na disciplina. Idealmente, eu diria que são necessários três semestres. No 1o., você escolhe o tema, examina sua viabilidade e começa a recolher material: fontes e bibliografia, fazendo os acertos necessários na sua proposta de acordo com um primeiro exame do que você efetivamente dispõe para trabalhar. No 2o., você elabora (com ajuda do orientador ou orientadora) um projeto de pesquisa bem amarrado, ou seja, com tudo bem definido: tema, hipótese, conceitos centrais, bibliografia, cronograma etc. É importante você aprender a fazer um projeto porque ele será cobrado para a entrada no mestrado (e no doutorado também, mas calma, vamos devagar). Neste 2o. semestre você também já começa a ler e fichar as fontes e/ou a bibliografia de acordo com os objetivos do trabalho. Não é para resumir os textos na íntegra, mas somente os pontos que interessam a sua pesquisa. Na 3a. etapa, você tem um semestre inteiro para escrever com tranquilidade, pois uma escrita de qualidade é um ponto-chave. E escrever demanda tempo, calma para rever, revisar, acrescentar. Novamente com ajuda da orientadora ou orientador.
3. MONOGRAFIA EXPRESS TAMBÉM DÁ PÉ
Bem. Não dá mais. Você está no último período e não planejou nada, não dá tempo de cumprir as três etapas. Não se desespere. Ainda há jeito, embora não haja milagres. A primeira coisa que você vai precisar é de uma escolha de tema bem, bem objetiva. Talvez uma parte bem menor do que você gostaria de pesquisar. Mas algo bem delimitado. Teu orientador ou orientadora serão fundamentais neste processo. E você vai precisar, mais do que ninguém, de um cronograma muito bem feito e cumprido à risca com disciplina espartana. Como se diz nos jogos de tabuleiro: vá para a casa quatro.
4. CRONOGRAMA CARANGUEJO
Caranguejo anda pra trás, todo mundo sabe. E é assim que se faz um cronograma, de frente pra trás. Vamos dizer que você tenha 16 semanas para escrever sua monografia, que terá três capítulos, uma introdução, uma conclusão e uma bibliografia, sem falar nas notas e na capa. Você terá que entregar uma versão definitiva, já comentada pelo seu orientador, a um leitor-crítico (ou mais). Se você quiser ser profissional, calcule duas semanas antes do fim do semestre para entregar o texto final. Ou seja, as semanas 15 e 16 serão para apreciação do trabalho pelo(s) leitore(s) crítico(s). Mas este é o texto final. Antes você vai entregar uma primeira versão ao seu orientador, dar a ele uma semana para ler e reservar uma semana para você fazer as modificações que ele pediu. Ou seja: até o início da semana 13 você entrega a primeira versão, no início da semana 14 ele entrega as correções e sugestões e você tem a semana 14 para aprontar a versão final. E por aí vai: a ordem de redação, na verdade, é a seguinte: a introdução é que você escreve por último, depois de escrever os capítulos 1, 2 e 3 e a importantíssima conclusão. A cada uma dessas etapas é preciso submeter o texto ao orientador ou orientadora, dar um tempo para ele ler e depois para você incorporar as sugestões, fazer as correções etc. Eis um exemplo fictício de cronograma:
Semanas 01-02: Redação do capítulo 1 e entrega ao orientador
Semana 03: Leitura por parte do orientador e ao fim da semana 3 sugestões
Semana 04: Modificações no capítulo
Semana 05-06: Redação do capítulo 2 e entrega ao orientador
Semana 07: Leitura por parte do orientador e ao fim da semana 3 sugestões
Semana 08: Modificações no capítulo
Semana 09-10: Redação do capítulo 3 e entrega ao orientador
Semana 11: Leitura por parte do orientador e ao fim da semana 3 sugestões
Semana 12: Modificações no capítulo 3 e entrega da primeira versão já com CONCLUSÃO e INTRODUÇÃO
Semana 13: Leitura por parte do orientador e ao fim da semana sugestões
Semana 14: Elaboração da VERSÃO FINAL
Semanas 15-15: Apreciação por parte dx(s) leitorx(s) críticx(s)
5. TRÊS PASSOS E DOIS PULINHOS
Normalmente uma monografia é composta de três capítulos. Cada caso é um caso, mas de uma maneira geral eu procuro orientar da seguinte forma: partir sempre do geral para o particular. Por exemplo, na nossa imaginária monografia sobre os E.T.s no Brasil. O capítulo 1 começaria com o surgimento da questão dos E.T.s: quando e onde se começou a falar do assunto. Quais são as principais correntes explicativas, os debates mais acirrados, como o tema apareceu no cinema etc. No capítulo 2 você já trataria das aparições de E.T.s no Brasil e do debate gerado pelo tema. No terceiro capítulo você trabalharia algum tipo de fonte primária. Como já dissemos: se não der para entrevistar um E.T., nem ir a Varginha entrevistar os moradores – tanto os que dizem ter visto quanto os céticos – sempre dá para trabalhar os jornais. E jornais diferentes têm enfoques diferentes, material para a sua análise. Podemos dizer então que a monografia é composta de três passos. Mas tem também a introdução e a conclusão. A introdução é feita por último, afinal antes de escrever o trabalho e ver como ficou não dá para apresentá-lo ao leitor. Na introdução o mais importante é explicar a origem do interesse pelo tema, a trajetória da pesquisa e, por fim, o que há em cada capítulo, como o trabalho está estruturado. Conclusão? Pule para o ponto seis
6. NÃO PARECE IMPORTANTE, MAS É…
Devido à falta de planejamento talvez, muitos alunos deixam pouco tempo para a conclusão e parecem dar pouca importância a ela. Erro gravíssimo. Existem leitores que só folheiam a introdução e a conclusão. Além disso, a conclusão é quando você pode reunir todos os seus argumentos e mostrar até que ponto você conseguiu avançar. Tendo a humildade de reconhecer também o que você ainda não conseguiu fazer, mas o mestrado vem aí…
7. CARTÃO DE VISITAS
Os trabalhos feitos na graduação normalmente não são guardados nem pelxs alunxs. Já a monografia vai ficar guardada no seu nome, você pode ser perguntado por ela em uma seleção de mestrado. E principalmente, ela é o começo da sua trajetória, você terá, literalmente, que assinar embaixo. Sentiu a responsabilidade? Bem vindo à vida adulta. Mas é preciso ter também maturidade para perceber que tudo é um processo e a monografia é uma primeira etapa. Procure apenas ter a certeza de que você está fazendo o melhor. Certa vez em um curso eu fiz a experiência de entregar nas mãos dos alunos o direito de se dar nota. Vários se concederam a nota máxima, alguns de forma merecida, outros nem tanto. Quem mais me impressionou, todavia, foi uma aluna excelente, talvez a melhor do curso, que se deu oito e meio. Diante do protesto dos colegas ela respondeu, sem titubear: dei essa nota porque sei que sou capaz de fazer mais do que fiz. Poucos anos depois a reencontrei: havia passado em um concurso para uma universidade federal.
Boa sorte com sua monografia!