“a literatura, como produto cultural, foi sempre o lugar das grandes confissões”:
“Pode parecer estranho o que vou falar, mas a análise do imaginário amoroso mostra que a nossa cultura está cheia de péssimos amantes. E, repito, os poetas não inventaram nada. A análise desses textos, sob a ótica psicanalítica, revela um desajustamento entre o real e o imaginário, que confirma a afirmativa de Platão, de que desejo é indigência. Esses textos são uma espécie de ‘relatórios’ e ‘depoimentos’ sobre a vida amorosa, antes que os americanos vulgarizassem esses procedimentos para saber da vida erótica das pessoas. A rigor, a literatura, como produto cultural, foi sempre o lugar das grandes confissões, porque nela o desejo sempre expôs sua ânsia de realização. Escrever é desejar.”
Affonso Romano de Sant’Anna. O canibalismo amoroso: o desejo e a interdição em nossa cultura através da poesia. São Paulo: Brasiliense, 1984.