“a literatura é o mito revisitado”
“Por isso, já que a literatura é o mito revisitado, aí estão as mulheres fatais, como Salambô (Flaubert), Carmem (Merimée), Herodiade (Mallarmé), Cleópatra (Wilde), Kali (Swinburne) e tantas outras, que o imaginário greco-cristão construiu esquizofrenicamente para dramatizar o temor de Eva e o amor de Maria. Portanto, a história da metáfora amorosa é, em grande parte, a história do medo de amar e da incapacidade de vencer fantasmas arcaicos e modernos. É claro que essa história é a história contada por homens. E, posto que o homem se elegeu como redator da história, escolheu para a mulher o papel do outro, colocando nela a imagem do mal e da desagregação.”
Affonso Romano de Sant’Anna. O canibalismo amoroso: o desejo e a interdição em nossa cultura através da poesia. São Paulo: Brasiliense, 1984.