/O DRUMMOND NOSSO DE CADA DIA – Anúncio da rosa

O DRUMMOND NOSSO DE CADA DIA – Anúncio da rosa

ANÚNCIO DA ROSA

Imenso trabalho nos custa a flor.

Por menos de oito contos vendê-la? Nunca.

Primavera não há mais doce, rosa tão meiga

onde abrirá? Não, cavalheiros, sede permeáveis.

 

Uma só pétala resume auroras e pontilhismos,

sugere estâncias, diz que te amam, beijai a rosa,

ela é sete flores, qual mais flagrante, todas exóticas,

todas históricas, todas catárticas, todas patéticas.

 

Vede o caule,

traço indeciso.

 

Autor da rosa, não me revelo, sou eu, quem sou?

Deus me ajudara, mas ele é neutro, e mesmo duvido

que em outro mundo alguém se curve, filtre a paisagem,

pense uma rosa na pura ausência, no amplo vazio.

 

Vinde, vinde,

olhai o cálice.

 

Por preço tão vil mas peça, como direi, aurilavrada,

não, é cruel existir em tempo assim filoaucioso.

Injusto padecer exílio, pequenas cólicas cotidianas,

oferecer-vos alta mercancia estelar e sofrer vossa irrisão.

 

Rosa na roda,

rosa na máquina,

apenas rósea.

 

Selarei, venda murcha, meu comércio incompreendido,

pois jamais virão pedir-me, eu sei, o que de melhor se compôs na noite,

e não há oito contos. Já não vejo amadores de rosa.

Ó fim do parnasiano, começo da era difícil, a burguesia apodrece.

 

Aproveitem. A última

rosa desfolha-se.