/O DRUMMOND NOSSO DE CADA DIA – Edifício São Borja

O DRUMMOND NOSSO DE CADA DIA – Edifício São Borja

EDIFÍCIO SÃO BORJA

Cólica premonitória

caminho do suicídio

fome de gaia ciência

São Borja

 

Esqueléticos desajustados

brigando com a vida nus

surgindo à noite em fragmentos

São Borja

 

Ritmo de poeta mais forte

nesta mão se inoculando

projeto de fuga ao Chile

à tua casa de infância

ao adro da igreja tombada

São Borja

 

Cerveja em copo de pedra

sonhos os mais obscuros

na palma da mão

na reuma

São Borja

 

Santoo da mais pura estima

nunca jamais invocado

sem estrelas se desfazendo

ou navios se cruzando

e se saudando: boa viagem

no caos

na peste

no espasmo

São Borja

 

São Borja São Borja São

quatro mãos quatro facadas

num peito só todo aberto

e nele cabe a cidade

o vento na roupa

uma outra longa amazônia

São Borja

 

Edifício poço luz

nome assobio no vácuo

esperança de emergência

São Borja

São Borja

 

Imolação das venezas

as terras distribuídas

o mar limpo

a cabeça loura

em ativa deleitação

viajando sozinha

São Borja

 

Palavras de muita força

embalsamadas

explodindo na alva

futuras verdades ainda sangrentas

cofre a saquear, jardim

de chaves fluidas

São Borja

 

Trompa de caça trombeta

de final juízo improvável

sinusite

raiva

São Borja

 

Canoa sem fado e peixes

canções jandaias madréporas

anêmonas

sorrimos

São Borja

outra vez sorrimos

 

O tempo se despencando

por trás das guerras púnicas

na face dos gregos

num dedo de estátua

posse de anel

segredo

São Borja

 

A vida povoada

a morte sem aproveitadores

a eternidade final expelida

estamos todos presentes

felizes calados

completos

Santo São Borja