/O DRUMMOND NOSSO DE CADA DIA – Assalto

O DRUMMOND NOSSO DE CADA DIA – Assalto

ASSALTO

No quarto de hotel

a mala se abre: o tempo

dá-se em fragmentos.

 

Aqui habitei

mas traças conspiram

uma idade de homem

cheia de vertentes.

 

Roupas mudam tanto.

Éramos cinco ou seis

que hoje não me encontro,

clima revogado.

 

Uma doença grave

esse amor sem braços

e toda a carga leve

que súbito me arde.

 

No quarto de hotel

funcionam botões

chamando mocidade

fogo, canto, livro.

 

Vem a quarteira

depositar a branca

toalha do olvido

insinuar o branco

 

sabão da calma.

A perna que pensa

outrora voava

sobre telhados.

 

Em copo de uísque

lesmas baratas

acres lembranças

enjoo de vida.

 

Ponho no chapéu

restos desse homem

encontrado morto

e do nono andar

 

jogo tudo fora.

A mala se fecha: o tempo

se retrai, ó concha.