“muito do que julgamos reação espontânea da nossa sensibilidade é, de fato, conformidade automática aos padrões”
“Se nos voltarmos agora para o comportamento artístico dos públicos, veremos uma terceira influência social, a dos valores, que se manifestam sob várias designações – gosto, moda, voga -, e sempre exprimem as expectativas sociais, que tendem por vezes a cristalizar-se em rotina. A sociedade, com efeito, traça normas por vezes tirânicas para o amador de arte, e muito do que julgamos reação espontânea da nossa sensibilidade é, de fato, conformidade automática aos padrões. Embora esta verificação fira a nossa vaidade, o certo é que muito poucos dentre nós seriam capazes de manifestar um juízo livre de injunções diretas do meio em que vivemos.”
Antonio Candido, “A literatura e a vida social” In: Literatura e Sociedade. São Paulo: T.A. Queiroz; Publifolha, 2000.