“Pode-se questionar seriamente a propósito do poder? Um fragmento de Para além do bem e do mal começa assim: ‘Se é verdade que em todas as épocas, desde que os homens existem, houve também grupos humanos (associações sexuais, comunidades, tribos, nações, igrejas, estados) e sempre um grande número de homens obedecendo a um pequeno número de chefes; se, consequentemente, a obediência é aquilo que foi por mais tempo melhor exercido e cultivado entre os homens, temos o direito de presumir que em regra geral cada um de nós possui em si mesmo a necessidade inata de obedecer, como uma espécie de consciência formal que ordena: ‘Farás isso sem discutir; privar-te-ás daquilo sem reclamar; em suma, é um ‘tu farás’.” Pouco preocupado, como sempre, com o verdadeiro e o falso em seus sarcasmos, Nietzche, entretanto, isola à sua maneira e circunscreve exatamente um campo de reflexão que, outrora confiado apenas ao campo especulativo, se encontra há cerca de duas décadas submetido aos esforços de uma pesquisa de vocação propriamente científica. Queremos aludir ao espaço do político, em cujo centro o poder coloca a sua questão: temas novos, em Antropologia Social, de estudos cada vez mais numerosos.”
CLASTRES,Pierre. “Copérnico e os selvagens” In: A sociedade contra o Estado. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1978. 2.ed. pp. 7-8.