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Futebol e Literatura – Mesa-Redonda da FLUPP 2012

 

2012-11-06 – Mesa Redonda FLUPP 2012 – Futebol e Literatura

Boa tarde a todos.

Antes de mais nada, gostaria de agradecer à favela.

Quando eu entrei na favela de Acari, aos 35 anos de idade, eu era um típico homo academicus. Estava mais acostumado a livros do que a seres humanos. Vivia enfurnado em um gabinete a ignorar o que acontecia nesse mundão de Deus.

Quando fui agradecer à Dona Marlene tudo o que ela tinha feito por mim, ela nem me deixou começar:
– Pode parar, Marcos, eu sei bem: quando você chegou aqui você nem sabia sorrir direito.
Parodiando a famosa frase de Picasso, que diz que demora-se muito tempo para a gente ser jovem, demora muito tempo para que a gente se torne um ser humano.

A favela foi e é um lugar de intensa vida cultural: jongo, pipa, candomblé, futebol, folia-de-reis, umbanda, balão, forró, quadrilha de festa junina, funk, hiphop, batalha do passinho e, é claro, samba. Os sambistas foram os poetas do morro e, como bons poetas, viram além do óbvio. A favela, sempre foi encarada com maus olhos pelo restante da cidade, que nela projetava seus fantasmas, sobretudo o fantasma racial. Mas para os sambistas era um lugar especial, poético. Como dizia mestre Cartola, a despeito de ser “habitada por gente simples e tão pobre”, a alvorada é uma beleza, e é onde “a lua prateada, silenciosa, ouve as nossas canções”. Nelson Cavaquinho cantava que “Em Mangueira, quando morre, um poeta, todos choram”. Portanto, a favela sempre foi e continua sendo um lugar de cultura e um lugar de poesia. O morro das dores e do sofrimento sempre foi também o Morro dos Prazeres.

Que a FLUPP seja um grande espaço de troca e diálogo.

Se o poeta é aquele capaz de enxergar o passado e o futuro, só poderia ser um poeta como Julio Ludemir a pensar uma festa dessas. Parabéns a ele e a toda essa equipe maravilhosa, que trabalhou e ainda está trabalhando muito para que a FLUPP aconteça. Além do Júlio, Écio Salles é a pessoa que eu devo mencionar em segundo lugar, afinal ele é vascaíno. Ao curador Toni Marques e todos mais. Obrigado pelo convite.

Mas o poeta me colocou em uma situação difícil. Me colocar em uma mesa com Thomas Brussig é pedir para um perna-de-pau fazer uma tabelinha com um craque. Li O charuto apagado de Churchill (por enquanto o único livro de Brussige traduzido no Brasil). Além de rir muito, fiquei encantado com a capacidade do autor de satirizar, com enorme leveza e inteligência o regime político e social antes existente na Alemanha Oriental. De quebra, já alerta quanto aos males que também existiam do lado de lá do muro. É também uma história de amor adolescente deliciosa, que nos faz torcer para que Micha consiga finalmente arrancar um beijo de Miriam. Até o ABV que inferniza a vida de Micha fica comovido com esse amor (o que é ABV? vão ler o livro!). Mas para além disso, o mais empolgante do livro de Brussig não é o que ele nos ensina acerca das hilariantes diferenças e particularidades dos alemães orientais. O mais bacana é que ali nos reconhecemos enquanto seres humanos.

Ser um perna-de-pau assumido só tem uma vantagem: o jogador de recursos limitados procura fazer o simples. Portanto a minha tese nesta tarde gloriosa será cândida e simplória como um toque de primeira. O que une futebol e literatura é a sua universalidade. Em outras palavras, a capacidade que ambos têm de servir de meio de expressão para dramatizar e refletir acerca do humano.

 

Primeiro tempo. Começo com a literatura.

Se rap é ritmo e poesia, o primeiro rapper foi Homero. Afinal, Homero não declamava poemas. Ele cantava versos acompanhado de uma cítara, que obviamente marcava o ritmo. E o que ele cantava, há quase 3 mil anos atrás? Assim que o juiz apita e a Ilíada começa, ele não brinca em serviço:

“Canta-me a cólera – ó deusa! – funesta de Aquiles filho de Peleu
causa que foi de os Gregos sofrerem trabalhos sem conta
e de baixarem para o Hades (Inferno) as almas de heróis numerosos
e esclarecidos, ficando eles próprios aos cães atirados
e como pasto das aves”

Em apenas cinco versos ele já avisa que o couro vai comer, ou, como canta uma das muitas torcidas organizadas do Flamengo: “Acabou o amor, isso aqui vai virar um inferno” (Hades)

Reparar no detalhe de que o aedo estava incorporado, é a Musa que canta, não ele.

Ele avisa que o poema vai ser pauleira, tudo começa com o ódio de Aquiles, que terá consequências funestas para os gregos: guerra, morte, corpos sendo devorados por animais, parece um filme de terror.

E há cenas realmente “sinistras”: uma lança penetra no coração e começa a vibrar na pulsação do órgão cardíaco: TUM-TUM, uma cabeça é rompida por um golpe e os olhos pulam fora com o impacto, uma lança atravessa o crânio e o cérebro escorre pela lança, o ventre é perfurado e os intestinos saltam para fora e por aí vai.

Tudo isso ocorre bem no meio da Guerra de Tróia, uma parada dura para os gregos, que estavam jogando na casa do adversário. Como todos sabem, reza a lenda que depois de dez anos, os gregos venceram a partida aos 47 do segundo tempo. Tudo graças ao artifício do Cavalo de Tróia, pensado pelo malandro mais escolado do exército grego, que atendia pelo nome de Ulisses.

O bacana é que o poeta-cantor, em suma, o rapper Homero, escolhe não contar a história da vitória grega na Ilíada. É isso mesmo. Até o episódio do Cavalo de Tróia só vai aparecer em outro poema épico, a Odisséia. Se ele contasse a história da guerra estaria louvando a vitória, a superioridade dos gregos, a força, a coragem e finalmente a astúcia. Ele prefere não cantar nem contar vantagem. Claramente escolhe outro caminho. Qual seria?

As pistas são muitas. Para começar, gregos e troianos não apresentam nenhuma diferença. Há heróis admiráveis de ambos os lados, lutam com as mesmas armas, em nome dos mesmos valores, cultuam os mesmos deuses e falam a mesma língua!

O poeta faz questão de lembrar que o sangue derramado de troianos e gregos misturava-se no solo por igual e compara “as gerações dos mortais” (Il. VI,144-9)

“às folhas das árvores, que, umas,
os ventos atiram no solo, sem vida;
outras, brotam na primavera, de novo, por toda a floresta
viçosa. Desaparecem ou nascem os homens da mesma maneira.”

Ou seja, a grande contraposição do poema-canção elaborado por Homero não diz respeito a gregos e troianos. Ambos são “comedores de pão”, sinônimo de homens, ou seja, mortais, breves e fugazes como as folhas das árvores. A grande oposição, o grande corte é o que existe entre homens e deuses.
Deuses que não comem pão, alimentam-se de ambrosia e bebem néctar ao invés de vinho. Deuses imortais.

Deuses que, aliás, dividiram-se em duas facções, uma favorável aos gregos e outra que estava disposta a ajudar os troianos. Estas duas “torcidas” tinham que se conter porque Zeus decretara que nenhum olimpiano poderia participar da guerra, os deuses não poderiam entrar em campo para ajudar os humanos de sua predileção.

Aproveitando que Aquiles recusava-se a lutar, os troianos liderados por Heitor conseguem encurralar os gregos, que são obrigados a se refugiar nos seus navios, ou seja, estão quase sendo derrotados.

É quando entra em cena Hera, irmã e esposa de Zeus. Seu plano era tirar o maridão da jogada um tempinho para que ela e outros deuses pudessem ajudar os gregos naquele momento. Como? Simples: seduzindo o soberano dos deuses. O poeta conta (Il. XIV, 169ss) que ela chega em casa, tranca-se no quarto e em seguida: lava bem “o corpo excitante”, passa um “óleo divino” bastante perfumado, penteia os cabelos, ajeita as tranças brilhantes. Depois veste as roupas tecidas por Atena, coloca brincos de diamante, na cabeça um véu brilhante como o sol e calça umas “formosas sandálias nos pés delicados”. Faltava ainda um toque mágico: um cinto cheio de encantos que ela conseguira junto a Afrodite. Nele havia, canta Homero “os desejos, o amor, as conversas dos namorados que perturbam o sono dos mais sérios”

Assim não tem Zeus que aguente, não é mesmo?

Quando ela passou por ele, Zeus logo lembrou do primeiro encontro dos dois, às escondidas, porque assim é mais gostoso. Hera diz a ele que tem que sair de casa mas o maridão protesta: peraí, espera um pouquinho… Diz que nunca sentiu por deusa ou mulher uma “paixão tão violenta como a que o peito me invade nesta hora”.

Hera faz biquinho, alegando que o Monte Ida era muito devassado, que os deuses todos iriam ver. Não seja por isso, disse Zeus, eu resolvo esse problema agora mesmo. Cria uma nuvem dourada para envolvê-los e garantir a privacidade. E, palavra de Homero “nos braços Zeus grande apertou a consorte”

O resto vocês podem adivinhar. Na verdade não podem não. Zeus faz flores crescerem do solo, açafrão perfumado e jacinto, criando um leito apropriado e, por que não dizer, um clima romântico.

Agora sim vocês podem adivinhar o que aconteceu. É aquilo que o vulgo chama de “uma foda homérica”!

Ao término, como bom marido, Zeus pega no sono e o plano de Hera dá certo.

Corta para o final da Ilíada, porque já tá na hora de terminar o primeiro tempo. Para vingar a morte de seu amigo Pátroclo, Aquiles retorna ao campo de batalha e aí a partida começa a virar para o lado dos gregos. O camisa 10 de Tróia, Heitor, é morto por Aquiles, que faz questão de arrastar o corpo do inimigo duas vezes em torno das muralhas da cidade, numa espécie de volta olímpica macabra. No alto da muralha, os troianos contemplam com horror o espetáculo que prenuncia morte, sofrimento e, no caso das mulheres, violência sexual e escravização.

O poema poderia terminar aqui, pois já estava anunciada a vitória grega e a desgraça de Tróia. Mas o rapper Homero queria ir além. No último canto, Príamo, pai de Heitor, rei de Tróia e um senhor de idade, toma uma decisão temerária, praticamente suicida. Iria até o acampamento grego pedir o corpo do seu filho para poder prestar-lhe as homenagens devidas a um herói. Seria loucura, mas ele recebera a visita de Íris, mensageira dos deuses, que lhe ordenara a missão. E recebe a confirmação de Zeus, que lhe envia uma águia pela direita, o que era de bom augúrio. Ele parte à noite, acompanhado apenas de um velho arauto. Hermes, a pedido de Zeus, auxilia o soberano, tornando-o invisível para os gregos (Homero tem muitos “efeitos especiais”).

Aí vem a cena mais tocante da Ilíada. O velho soberano abraça os joelhos de Aquiles, na posição religiosa do suplicante (que os católicos herdaram) e “beija as terríveis mãos homicidas” (Il. XXIV, 478-9). Oferece um resgate pelo cadáver do seu filho e lembra a Aquiles que o pai dele também era idoso e haveria de estar cheio de angústia a pensar no filho que viera a Tróia. Aquiles se emociona e chora. Príamo chora também. Aquiles chora por seu pai e por ele próprio, cujo destino já estava selado: seria para sempre lembrado, mas não iria escapar da morte. Príamo chora por Heitor. Ambos, na verdade, choram pelos comedores da pão que somos nós, por nosso destino inevitável, pela fragilidade da vida.

E o poema, que começara com o horror da guerra, termina com os funerais de Heitor “domador de cavalos”, ou seja, termina em um raro momento de trégua entre gregos e troianos, termina em um raro momento de paz. Uma paz que é proporcionada pelo reconhecimento mútuo da humanidade de gregos e troianos. Porque gregos e troianos sabiam que a paz (que é bem diferente da pacificação) não vem na ponta da lança, a paz vem com o respeito e o reconhecimento da humanidade do outro.

(apito!) Fim do primeiro tempo

Beleza. Homero rapper e sua investigação acerca da humanidade.

Mas o que o futebol tem a ver com isso? No mundo de hoje não há nada mais universal do que o futebol. Ele atravessa todas as fronteiras: língua, etnia, religião, o futebol reina absoluto em todo o planeta. Como explicar isso?

Nelson Rodrigues tem uma personagem espetacular. É a grã-fina de narinas de cadáver. Ela chega em um jogo de futebol e logo pergunta: Quem é a bola?

Embora seja uma sátira a uma postura elitista extremada (que lembra Pra que discutir com madame), é claro que muitas pessoas se perguntam: afinal, tem algum sentido 22 homens correndo atrás de uma bola? (sem falar no juiz e dos bandeirinhas, que como Brussig demonstrou-demonstrará, também fazem parte do jogo)

Tem?

Claro que não?

Não tem um sentido, isso não tem. Mas tem vários sentidos possíveis. O grande craque José Miguel Wisnik, em uma tabelinha com Pasolini, ensina o seguinte: “o futebol é um esporte que comporta múltiplos registros, sintaxes diversas, estilos diferentes e opostos e gêneros narrativos, a ponto de parecer conter vários jogos dentro de um único jogo.” (Veneno-Remédio: o futebol e o Brasil, p.14).

Em linguagem mais rasteira: um jogo de futebol é ao mesmo tempo épico (pensemos nas grandes viradas na raça, nas conquistas aos 47 do 2o. tempo), cômico (Garrincha bailando para desespero dos seus marcadores), trágico (a derrota brasileira na Copa de 50), pode ser poesia (antigo futebol brasileiro), pode ser prosa (futebol europeu), enfim, é impossível de ser reduzido a uma única coisa.

A força expressiva do futebol estaria nesta “narratividade aberta”, permitindo que ele seja apropriado de várias formas. Nada em um jogo de futebol é categórico. Bem, vocês me dirão, o placar é. 2×1 é 2×1. Não é não. No basquete, 100×98 é 100×98. No basquete o placar reflete o que foi o jogo. No caso do futebol, 2×1 pode ser muito pouco diante da absurda superioridade do time vencedor, pode ser um placar “justo” (mas só os vencedores dirão isso) ou uma flagrante injustiça por conta daquelas três bolas na trave, do pênalti que o juiz não marcou e da bola deles que resvalou no zagueiro e enganou nosso goleiro. Pode-se debater eternamente um único jogo de futebol e não há como chegar a conclusões irrefutáveis. Creio que poderíamos dizer o mesmo de uma obra literária.

O futebol, assim como a literatura, serve para dramatizar e refletir acerca dos dilemas da Humanidade. Acham que eu estou exagerando? Então darei um exemplo radical.

Quem não gosta de futebol ou pelo menos não se conforma com o espaço que ele ocupa na vida de tanta gente, deve fazer a seguinte pergunta: para que serve mesa-redonda acerca de futebol (não estou me referindo a esta e sim às que ocorrem na televisão todas as semanas)?

Outro dia, assistindo a uma ótima mesa-redonda (Linha de Passe), pintou uma discussão acalorada. A questão era a seguinte: o jogador que simula uma falta, enganando o juiz, está certo ou errado? É correto ou não que ele faça isso? Faz parte do jogo enganar o juiz? O jogador deve fazer tudo que estiver ao seu alcançe para vencer ou não? É válido, por exemplo, bater em outro jogador quando o juiz não está vendo? Em suma: é pra levar vantagem em tudo ou não?

Pois bem, no fim das contas, o que estava se debatendo era uma questão ética. Se abrirmos o livro II da República, de Platão, vamos ler uma história interessante. É um diálogo entre Sócrates e Gláucon. Sócrates achava ter convencido a todos que é sempre melhor ser justo do que injusto. Gláucon discorda completamente e afirma que a justiça é apenas um pacto entre aqueles que temem ser injustiçados, mas que se pudessem cometer injustiças impunemente o fariam. Como exemplo, cita o caso (invenção de Platão) do lídio Giges. Esse sujeito era um pastor que encontra um anel mágico. Girando para um lado, o anel lhe proporcionava o dom da invisibilidade. Com isso, Giges entra no palácio real, seduz a mulher do soberano e, com a ajuda dela, mata o rei, passando a ocupar o trono. Na opinião de Gláucon, nenhum homem seria justo se tivesse o anel, ou seja, se tivesse certeza da impunidade. É claro que Sócrates discorda e vai provar o contrário.

Os moralistas dirão, mas isto é um absurdo! É claro que é incorreto enganar o juiz para vencer uma partida! Bem, então é melhor o Brasil devolver a Jules Rimet, pois em 1962 vencemos a Espanha graças a um artifício de Nílton Santos. Depois de derrubar um adversário dentro da área, levantou os braços alegando inocência e deu dois passos para a frente, evitando o pênalti. Aliás, quem é que não vibrou com aquele gol de mão de Maradona? Se a vida é injusta, parece dizer o futebol, por que só nós temos que ser justos?

Mas o caso aqui é outro, não sou filósofo, estou apenas querendo mostrar como por debaixo das discussões “banais” do futebol há questões de outra natureza.

Por exemplo; a questão estética. O futebol ainda é predominantemente masculino. Seu aspecto de guerra simulada parece transformá-lo em um meio ideal para a expressão da virilidade. Mas isso encobre um elemento estético fortíssimo. A mesma mesa-redonda de futebol mencionada por mim é praticamente iniciada com a apresentação dos “gols mais bonitos” da rodada (no Brasil e no estrangeiro) para que os telespectadores votem. Vejam bem, não são os gols mais importantes, são os “mais bonitos”. Os jornalistas que participam do programa não só declaram seus votos, mas comparam os gols em termos estéticos e explicam as razões da sua escolha. Quantas vezes ouvimos acerca de um gol magnífico que ele é “uma pintura”, “uma obra de arte” e imagens semelhantes. A câmera lenta não é só utilizada para tirar “dúvidas” acerca de lances polêmicos, mas também para repetir ad infinitum aquele drible, aquela cobrança de falta, de uma beleza incomparável. O antropólogo francês Christian Bromberger (cientista social que se preze tem que citar pelo menos um autor francês por palestra) compara o futebol a uma ópera e destaca os recursos cênicos, estéticos e dramáticos de um jogo que ele chama de “arte visual”.

Outra questão recorrente nos debates futebolísticos, na televisão, no botequim, nas arquibancadas, em toda a parte, diz respeito à sorte e ao destino. Ao mesmo tempo em que se louva a preparação, a disciplina, o trabalho coletivo, a solidariedade entre os membros de uma equipe, debate-se também o acaso. Novamente recorro à mesma mesa-redonda: quantas vezes discute-se o “se”: se aquela bola tivesse entrado naquele momento a “história do jogo teria sido outra” (uma obviedade), se o juiz tivesse marcado aquele pênalti (mas não marcou), como é que no bate -rebate a bola sobrou para ele assim e por aí vai.

Em suma, para não me alongar e permitir a conversa com o público, o futebol permite o debate incessante e recorrente de grandes questões. É uma espécie de “novela pra homens”, em que os mesmos dramas são continuamente encenados e debatidos, sem que nunca se chegue a uma conclusão definitiva.

Jogador limitado que sou, dei minhas caneladas à torto e à direito. Só espero não ter isolado a bola para fora do estádio. Agora lanço mão da outra possível qualidade que um perna-de-pau pode ter: saber passar a bola para o craque.

Muito obrigado.

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