“Os ritos ajudaram a resolver esse problema, pois, na verdade, é tão instrutivo o que os homens dizem sobre os seus símbolos, quanto o que fazem com eles. Aqui, talvez caiba uma paráfrase da epígrafe de Paul Valéry com que Lévi-Strauss abre o seu texto sobre a poesia de Apollinaire: rito é o lugar dos pontos equidistantes entre o puro sensível e o puro inteligível – no campo da ação. Por esse motivo, frequentamos os diversos contextos cerimoniais onde contávamos encontrar a galinha d’angola. Percorremos o mercado, onde pode ser adquirida para os sacrifícios; assistimos as saídas festivas e públicas dos barcos de iaôs; procuramos rastrear o caminho feito pelos neófitos, desde sua consagração no borí, até o ritual da quebra dos interditos, que culmina com a romaria. Em cada uma dessas situações etnográficas encontramos desdobramentos do seu papel sacrificial, esclarecendo, cada contexto, uma faceta diferente do símbolo.”
VOGEL,Arno et alii. A galinha d’Angola: iniciação e identidade na cultura afro-brasileira. Rio de Janeiro: Palllas, 1998. 2.ed.