“Ao ler os manuais das parteiras do século XVII – em busca de material sobre a organização dos nascimentos – acabei encontrando conselhos para mulheres que desejam engravidar. As parteiras e os médicos acreditavam que o orgasmo feminino era uma das condições para uma concepção de sucesso, e davam várias sugestões para que a mulher o atingisse. O orgasmo era considerado uma rotina, uma parte mais ou menos indispensável à concepção. Isso me surpreendeu. A experiência devia mostrar que a gravidez em geral ocorre sem o orgasmo; além disso, como historiador do século XIX eu estava habituado a ler que os médicos tinham dúvidas se as mulheres conseguiam atingir o orgasmo. No período que eu melhor conhecia, o que havia sido uma ocorrência corporal comum tornara-se um grande problema da fisiologia moral.”
LAQUEUR,Thomas. Inventando o sexo: corpo e gênero dos gregos a Freud. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 2001.