“Porém, em termos mais objetivos, não há qualquer conhecimento específico da diferença sexual em termos históricos a partir de fatos indiscutíveis sobre os corpos. E descobri logo que a retirada do prazer da mulher dos relatórios médicos sobre a concepção ocorreu mais ou menos no mesmo tempo em que o corpo da mulher passou a ser conhecido, não mais como uma versão menos importante do corpo do homem (modelo de sexo único), porém como seu oposto incomensurável (modelo de dois sexos). Os orgasmos, que tinham sido propriedade comum, passaram a ser divididos. Os órgãos, considerados versões interiores do que o homem tinha do lado de fora – a vagina como o pênis; o útero como o escroto -, foram interpretados, no século XVIII, como órgãos com uma natureza completamente diferente. Da mesma forma, os processos fisiológicos – menstruação e lactação -, que eram vistos como parte de uma organização comum de fluidos, passam a ser considerados específicos da mulher.”
LAQUEUR,Thomas. Inventando o sexo: corpo e gênero dos gregos a Freud. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 2001. p.8.