“A propósito do hau, do espírito das coisa, e, em particular, da floresta, ou da caça que ela contém, Tamati Ranaipiri, um dos melhores informantes maori de R. Elsdon Best, dá-nos de maneira inteiramente casual, e sem nenhuma premeditação, a chave do problema. ‘Vou falar-lhe do hau… O hau não é o vento que sopra. Nada disso. Suponha que o senhor possui um artigo determinado (taonga), e que me dê esse artigo; o senhor o dá sem um preço fixo. Não fazemos negócio com isso. Ora, eu dou esse artigo a uma terceira pessoa que, depois de algum tempo, decide dar alguma coisa em pagamento (utu), presenteando-me com alguma coisa (taonga). Ora, esse taonga que ele me dá é o espírito (hau) de taonga que recebi do senhor e que dei a ele. Os taonga que recebi por esses taonga (vindos do senhor) tenho que devolver-me. Não seria justo (tika) de minha parte guardar esses taonga para mim, quer sejam desejáveis (rawe) ou desagradáveis (kino). Devo dá-los ao senhor, pois são um hau de taonga que o senhor me havia dado. Se eu conservasse esse segundo taonga para mim, isso poderia trazer-me um mal sério, até mesmo a morte. Tal é o hau, o hau da propriedade pessoal, o hau dos taonga, o hau da floresta. Kati ena (basta sobre o assunto).'”
Marcel Mauss. Ensaio sobre a dádiva In: Sociologia e Antropologia, volume II. São Paulo: E.P.U., 1974.