/Marcel MAUSS – Um maori explica o hau ou espírito da coisa

Marcel MAUSS – Um maori explica o hau ou espírito da coisa

“A propósito do hau, do espírito das coisa, e, em particular, da floresta, ou da caça que ela contém, Tamati Ranaipiri, um dos melhores informantes maori de R. Elsdon Best, dá-nos de maneira inteiramente casual, e sem nenhuma premeditação, a chave do problema. ‘Vou falar-lhe do hau… O hau não é o vento que sopra. Nada disso. Suponha que o senhor possui um artigo determinado (taonga), e que me dê esse artigo; o senhor o dá sem um preço fixo. Não fazemos negócio com isso. Ora, eu dou esse artigo a uma terceira pessoa que, depois de algum tempo, decide dar alguma coisa em pagamento (utu), presenteando-me com alguma coisa (taonga). Ora, esse taonga que ele me dá é o espírito (hau) de taonga que recebi do senhor e que dei a ele. Os taonga que recebi por esses taonga (vindos do senhor) tenho que devolver-me. Não seria justo (tika) de minha parte guardar esses taonga para mim, quer sejam desejáveis (rawe) ou desagradáveis (kino). Devo dá-los ao senhor, pois são um hau de taonga que o senhor me havia dado. Se eu conservasse esse segundo taonga para mim, isso poderia trazer-me um mal sério, até mesmo a morte. Tal é o hau, o hau da propriedade pessoal, o hau dos taonga, o hau da floresta. Kati ena (basta sobre o assunto).'”

Marcel Mauss. Ensaio sobre a dádiva In: Sociologia e Antropologia, volume II. São Paulo: E.P.U., 1974.