OXÓSSI QUEBRA O TABU E É PARALISADO COM SEU ARCO E FLECHA
Oxóssi caçava todo dia.
Todo dia ia à mata em busca de caça.
Mas tinha dia em que tudo era proibido.
As mulheres não vendiam no mercado.
Os homens não cultivavam os campos.
Os pescadores não pescavam.
Os guerreiros não guerreavam.
Os adivinhos não adivinhavam.
Os ogãs sacrificadores não matavam as oferendas.
Os caçadores não caçavam.
Era o grande dia das proibições,
era dia de euó.
Oxóssi ia à mata todo dia para a caça.
Mas tinha um dia em que tudo era tabu.
Oxóssi naquele dia não podia ir caçar.
Mas Oxóssi só pensava em si
e contrariou as determinações de Olodumare.
Penetrou na floresta e pôs-se a lançar flechas indiscriminadamente.
De repente, surgiu diante dele uma fera,
uma visão bestial, que Oxóssi desejou ardentemente abater.
Antes que Oxóssi lançasse sua flecha,
a besta transformou-se em Odudua.
Oxóssi entendeu o sentido dos tabus daquele dia.
O caçador aterrorizado gritou petrificado,
o arco esticado como se fosse atirar.
Ali ficou Oxóssi, o arco retesado,
o gesto de ataque parado no ar.
Ali ficou para sempre seu ofá, seu arco e flecha.
O ofá do caçador, o ofá do orixá.
Reginaldo Prandi, Mitologia dos Orixás. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.