/O ‘ARRASTÃO’ DE 1992 SEGUNDO UM JOVEM DE VIGÁRIO GERAL

O ‘ARRASTÃO’ DE 1992 SEGUNDO UM JOVEM DE VIGÁRIO GERAL

O ‘Arrastão’ de 1992 segundo um jovem de Vigário Geral

Natureza e data do texto:

Passagem do artigo “Bonde do mal” de Olívia Maria Gomes da Cunha, publicado em MAGGIE,Y. e REZENDE,C.B. Raça como retórica – a construção da diferença. Rio de Janeiro:Civilização Brasileira,2002.pp.85-86.

Carioca. [Do tupi Kari’oka, ‘casa do branco’.] De, ou pertencente ou relativo à cidade do Rio de Janeiro.

Era mais ou menos umas onze, dez onze horas por aí. Nós levamos até instrumento, sabe… nós ia bater um pagode na praia e tudo. Começou assim: nós chegamos na praia e pá… sentamos, começamos a bate o pagode. Nego já começou a olhar pra gente assim. Nós chegamos na moral e os polícia começou a olhar pra gente assim… os caras com aquelas bermudinhas assim azul, revólver, aquelas camisetas escrito ‘Eu cuido de você’ não, ‘Eu quero te bater’, eles fala assim. Aí ficaram olhando pra gente assim. Nós começamos a bater o pagode e falaram que é bagunça: ‘pode parar’. Aí tomou os instrumentos da gente… Aí tudo bem. Sentamos. Nesse tempo eu já cantava rap. Todo mundo cantando. Daí a um pouquinho volta[m]: ‘Aí, vamos parar com a bagunça. Vai parando logo, vai se destacando aí. Vai dando um role.’ E começou a bicar nego. Já tava começando a olhar a gente de cara feia… o cara já tinha tomado os instrumentos da gente. Aí foi quando a poeira subiu lá embaixo e eu falei ‘que é que é isso mano ?’ Todo mundo começou a olhar e todo mundo amarrando as coisas na cintura. De repente um cara [gritou] ‘Olha lá os alemão’. Todo mundo correu pra lá e a gente perguntou ‘[o] que é que vocês quer ?’. Eles [os alemães] disse, ‘a gente quer passar’. Aí começaram a pegar aqueles vidro e tacar. Foi nego tacando areia. ‘Tem arma’, gritaram. E todo mundo correndo pra lá. Só sei que o cara comeu garrafa, comeu areia, comeu pedrada. Os homem veio correndo dando tiro, nego correu pra cima da calçada. Todo mundo correu pra dentro da praia. Tinha gringo e o caramba na praia nesse dia. Só sei que os gringo ficou em pânico, pegou as coisas e ficou agachadinho na areia assim. E eu disse: ‘É, mané, é agora…’ os homens vinham… e os repórteres tudo atiçando: ‘Vai bater naquele ali, tá tacando mais pedras do que vocês!’ Quando vai ver: arrastão de praia. Que eu saiba, arrastão é roubo, né ? Como é que não roubaram nada nesse dia ? Nesse dia foi só tumulto, mas arrastão não teve não.”