“O texto [inspirado na Gaia Ciência de Nietzche] ficou assim:
A cena: um louco grita numa praça. Dirige-se àqueles que ali estão. Eles riem e zombam.
‘O que aconteceu com a nossa Terra’, ele grita. ‘Pois vou lhes dizer. Nós a matamos – vocês e eu. Todos nós somos seus assassinos. Mas como é que fizemos isso? Como é que fomos capazes de beber os rios e comer as florestas? Quem nos deu a esponja para apagar os horizontes do futuro? O que fizemos quando partimos a corrente que ligava a Terra à Vida? Para onde ela irá/ Vagará pelo Nada infinito? Esse hálito que sentimos não é o hálito da morte? E esse calor! Os gelos estão se derretendo. Já se vê o cume negro do Kilimanjaro, outrora vestido com a brancura da neve. O mar subirá. O Sol está mais quente e mortífero. Temos de nos proteger contra os seus raios.”
Rubem Alves, “Meu ‘Uaicai’” In: Lições do velho educador. Campinas: Papirus, 2013.