“A corrente aristocrática encara, na perspectiva da eunomia de Sólon, a cidade como um cosmos feito de partes diversas, mantidas pela lei numa ordem hierárquica. A homónoia, análoga a um acorde harmônico, repousa sobre uma relação de tipo musical: 2/1, 3/2, 4/3. A medida justa deve conciliar forças naturalmente desiguais, assegurando uma preponderância sem excesso de uma sobre a outra. A harmonia da eunomia implica, pois, o reconhecimento, no corpo social como no indivíduo, de um certo dualismo, de uma polaridade entre o bem e o mal, a necessidade de assegurar a preponderância do melhor sobre o pior. É essa orientação que triunfa no pitagorismo; é ela ainda que preside à teoria da sophrosyne tal como Platão a exporá na República.”
Jean-Pierre Vernant, As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro/São Paulo: Difel, 1977.