VIVEIROS DE CASTRO – O fim da história do Ocidente e dos Estados nacionais
“O mundo visto então – melhor, vivido – a partir daqui, do ‘centro da
17: ecologia’, do coração indígena dessa vasta e ilimitada Terra cosmopolítica onde se distribuem nomadologicamente as inumeráveis gentes terranas, e não como uma esfera abstrata, um globo visto de fora, cercado e dividido em territórios administrados pelos Estados nacionais, épuras [representação, no plano, de uma figura no espaço] da alucinação euroantropocêntrica conhecida pelos nomes de ‘soberania’, ‘domínio eminente’, ‘projeção geopolítica’ e fantasmagorias do mesmo quilate. Talvez seja mesmo chegada a hora de concluir que vivemos o fim de uma história, aquela do Ocidente, a história de um mundo partilhado e imperialmente apropriado pelas potências européias, suas antigas colônias americanas e seus êmulos asiáticos contemporâneos. Caberia a nós portanto constatar, e tirar daí as devidas consequências, que ‘o nacional não existe mais; só há o local e o mundial’.”
“O recado da mata”, Prefácio de Eduardo Viveiros de Castro
Davi Kopenawa e Bruce Albert. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. pp. 16-17.