“Como tendemos a introjetar as normas sociais, a nossa reação é perfeitamente sincera e nos dá satisfação equivalente à das descobertas, tanto positivas quanto negativas. (…) no terreno da música, o sincero enfado que o público habitual dos concertos vai sentindo em relação à tríade clássica Haydn-Mozart-Beethoven, e o correspondente entusiasmo pelos italianos barrocos, agora redescobertos: Corelli, Geminiani, Vivaldi, etc. Há algo mais que humor e ironia nos conselhos ‘para parecer entendido’, com que um autor recente termina seu livro, indicando de maneira jocosa certos tipos de atitude e comentário que, embora não exprimam com sinceridade o nosso julgamento ou a nossa cultura real, servem para despertar nos outros uma impressão de requinte. Eles exprimem a necessidade, insuspeitada em muitos, de aderir ao que nos parece distintivo de um grupo, minoritário ou majoritário, ancorando a nossa reação no reconhecimento coletivo.”
Antonio Candido, “A literatura e a vida social” In: Literatura e Sociedade. São Paulo: T.A. Queiroz; Publifolha, 2000.