“Quando lança ao mar uma canoa, com toda sorte de esconjuros para que os espíritos da flutuação a façam sobrenadar contra os espíritos da submersão, o artesão de Sinaketa não supõe que ela navegue por obra e graça deles. Conhecendo empiricamente os princípios da flutuação e os processos adequados para os utilizar, jamais lhe passaria pela cabeça pegar um tronco e jogá-lo na água, confiado em que apenas a força dos espíritos o manteria emerso. Ele aplica rigorosamente a sua técnica, mas crê também na eficácia indispensável do ritual mágico.”
Antonio Candido, “Estímulos da criação literária” In: Literatura e Sociedade. São Paulo: T.A. Queiroz; Publifolha, 2000. p. 38.