/BALANDIER – O imaginário ilumina pois o fenômeno político

BALANDIER – O imaginário ilumina pois o fenômeno político

“O imaginário ilumina pois o fenômeno político; sem dúvida de dentro, pois que dele é uma parte constituinte. Todo sistema de poder é um dispositivo destinado a produzir efeitos, entre os quais os que se comparam às ilusões criadas pelas ilusões do teatro. As imagens propostas por Maquiavel identificam o Príncipe ao demiurgo ou ao herói; elas sacralizam seus empreendimentos, tornando-o cúmplice da instituição sagrada estabelecida -a religião e suas cerimônias. No entanto, a transposição requerida pela prática política é de outra espécie: o Florentino, por sua própria experiência, inclusive a de autor dramático, conhece a relação íntima de parentesco entre a arte do governo e a arte da cena. As técnicas dramáticas não são utilizadas exclusivamente no teatro, mas também na direção da cidade. O Príncipe deve se comportar como ator político para conquistar e conservar o poder. Sua imagem, as aparências que ele tem, poderão assim corresponder ao que seus súditos desejam encontrar nele. Ele não saberia governar mostrando o poder desnudo (como está o Rei no conto) e a sociedade em uma transparência reveladora. Tomemos pois o risco de uma fórmula: a aceitação resulta em grande parte das ilusões da ótica social.”

BALANDIER,Georges. O poder em cena. Brasília: UNB, 1982.