“Do mesmo modo, parece impossível continuar operando com um sistema político onde os acordos pessoais ultrapassam sempre e no momento mais preciso as lealdades ideológicas, e o sistema econômico funciona com duas lógicas. Há, na realidade, vários ‘mercados’ que operam simultaneamente. Alguns são financiados pelo Estado, e seus empresários desfrutam de todos os lucros e não correm nenhum risco; outros operam na dura base da lei da oferta e da procura. E há, ainda, para usarmos a expressão definitiva de Raymundo Faoro, os ‘donos do poder’, esses que vivem num universo sem competição, pagos pelo Estado e sustentados pelos misteriosos laços de simpatia e lealdade pessoais.”
Roberto DaMatta. A Casa e a Rua: espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991. p.24.